Título: ACORDO COM REBELDES ABRE CAMINHO PARA PAZ EM DARFUR
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Fonte: O Globo, 06/05/2006, O Mundo, p. 42

Governo sudanês e principal grupo da região concordam em pôr fim a conflito que já matou 180 mil desde 2003

ABUJA, Nigéria. Após três anos de lutas, massacres e pilhagens que deixaram um rastro de cerca de 180 mil mortos e forçaram dois milhões de pessoas a fugirem de suas casas, o governo do Sudão e o principal grupo rebelde da região de Darfur assinaram ontem um acordo de paz na Nigéria. O entendimento entre as duas partes abre caminho para o início da resolução de uma das maiores crises humanitárias dos últimos tempos.

O acordo foi assinado pelo governo sudanês e pela facção principal do Exército de Libertação do Sudão (ELS) ao fim de dois anos de mediação da União Africana (UA), que contou nesta semana com a pressão adicional dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha nas negociações na capital nigeriana. Ambos os lados, no entanto, mantêm reservas ao esquema acordado de divisão de poder e da manutenção da ordem.

¿ A menos que o espírito certo esteja presente, a atitude certa, este documento não valerá o papel sobre o qual está escrito. O espírito que levou à assinatura (do acordo) deve continuar a guiar sua implementação ¿ cobrou o presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo.

Zoellick: todos estão amarrados ao cessar-fogo

Assinado após o fim do terceiro prazo consecutivo estabelecido desde domingo para o entendimento pelo representante do governo do Sudão, Majzoub al-Khalifa, e pelo principal chefe rebelde, Minni Arcua Minnawi, o acordo não teve a adesão de uma facção rival dentro do ELS nem do Movimento de Justiça e Igualdade (MJI), outro grupo em luta contra as autoridades de Cartum. Ambos citaram desconfiança dos arranjos de segurança e o MJI reivindicou sem sucesso o cargo de vice-presidente do Sudão, o estabelecimento de um governo regional, maior representação nas instituições nacionais e garantia de 6,5% de alocação do PIB sudanês a um fundo de desenvolvimento de Darfur. O secretário de Estado adjunto dos EUA, Robert Zoellick, e a secretária de Desenvolvimento Internacional britânica, Hilary Benn, participaram das negociações para pressionar o governo sudanês a aumentar suas concessões aos rebeldes, mas não tiveram muito sucesso.

¿ Dissemos que se não fossem feitas mudanças fundamentais no documento, seria muito difícil para nós assinarmos ¿ justificou o negociador-chefe do MJI, Ahmed Tugod.

Zoellick, no entanto, disse que os grupos que não aderiram ao acordo ainda assim estão obrigados a cumpri-lo.

¿ Esses grupos estão amarrados ao cessar-fogo como todos os outros ¿ ressaltou.