Título: RETÓRICA NACIONALISTA UNE PAÍS
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 07/05/2006, Economia, p. 36

Desde que fizeram as pazes com a democracia em 1982, após um longo ciclo de regime militar, os sucessivos governos da Bolívia lançaram inúmeros programas econômicos e de integração nacional que pouco fizeram para tirar o país da condição de uma das nações mais pobres da América do Sul. Esses fracassos se devem em boa parte à enorme discrepância entre as políticas nacionais e os interesses locais de um país dividido entre descendentes de espanhóis e 37 grupos indígenas, entre eles aimaras, quíchuas e guaranis, que formam mais de 50% do total.

A desconsideração das diferenças étnicas pelos governos aprofundou a enorme distância entre ricos e pobres e estimulou os conflitos sociais que resultaram na eleição de Evo Morales.

O líder cocaleiro chega ao poder com um forte discurso nacionalista, baseado na defesa das riquezas naturais e territoriais do país. Estratégia bastante lógica, considerando que, ao longo de sua História, a Bolívia perdeu parte do território para todos os seus vizinhos, inclusive o Brasil.

Resta saber até quando a retórica nacionalista resistirá às enormes diferenças locais.