Título: ROTINA DE INSTABILIDADE E CRISE SOCIAL
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 07/05/2006, Economia, p. 36

Bolívia é o país mais pobre da América do Sul e tem o 113º IDH do mundo

A instabilidade política e a exclusão social são características tão marcantes da Bolívia quanto sua peculiar geografia. O país encravado no coração da América do Sul não tem saída para o mar e, historicamente, pena com o limitado vigor econômico, a sucessão de presidentes que não chegam ao fim do mandato e uma desigualdade social que mantém quase dois terços dos habitantes abaixo da linha de pobreza (US$2 por dia). A pequena nação cujo mandatário, Evo Morales, comandou o terremoto político que sacudiu o Brasil na semana passada é a mais pobre da região e, segundo a ONU, tem o 113º Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) numa lista de 177 países. Na América Latina, só ganha do devastado Haiti.

¿ A instabilidade é uma marca da Bolívia e da América Latina desde o século XX. A diferença, agora, é que a ruptura tem origem numa pressão gigantesca das ruas. O país vive o ápice da mobilização popular com um forte recorte étnico ¿ diz o cientista político Marcelo Coutinho, coordenador do Observatório Político Sul-Americano do Iuperj.

A Bolívia, que agora radicaliza a relação com os investidores estrangeiros, foi pioneira nas chamadas reformas liberais na região. Ainda na primeira metade dos anos 80, decidiu abrir a economia e dar início ao processo de privatização. Duas décadas de reformas não alteraram significativamente o ambiente de desigualdade. Lá os 10% mais pobres detêm 1,3% da renda nacional, enquanto o décimo mais rico fica com quase um terço.

Foi este cenário de desolação com o quadro social que serviu de pano de fundo às atitudes recentes de Evo Morales. Na última segunda-feira, Dia do Trabalho, ele anunciou a nacionalização da cadeia produtiva do petróleo e do gás em frente a uma refinaria da Petrobras.

¿ A Bolívia é um país marcado por fortes divisões sociais e indicadores socioeconômicos muito baixos. O PIB per capita do país é o menor da América do Sul, condição que deve ser mantida nos próximos anos. Indicadores como expectativa de vida e percentual de desnutridos são piores que os de vizinhos, como Brasil e Paraguai, que também oferecem condições de vida limitadas para boa parte da população ¿ diz Érica Fraga, analista de América Latina da consultoria britânica Economist Intelligence Unit.

O Produto Interno Bruto (PIB) da Bolívia subiu cerca de 4% no ano passado, contra 2,3% do brasileiro. Mas a relação dívida/PIB superior a 70% é uma das fraquezas macroeconômicas da economia vizinha, agora também ameaçada pela perda de investimentos.

INVESTIMENTOS DO BRASIL ESTÃO PARADOS NA BOLÍVIA, na página 41