Título: BID: AMEAÇA A NOVOS NEGÓCIOS NA AL
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 07/05/2006, Economia, p. 41

Para analistas, intervencionismo e contratos quebrados põem em risco investimentos

SÃO PAULO. A guinada intervencionista liderada pelos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia, ameaça tirar a América Latina do mapa dos investidores estrangeiros e jogar a região ¿50 anos para trás¿. Esta é a avaliação do economista Maurício Mesquita Moreira, do Departamento de Integração e Programas Regionais do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Moreira, que trabalha em Washington, também vê riscos para o projeto de integração comercial entre os países latino-americanos.

¿ O que tem prevalecido é uma retórica de governos que não parecem comprometidos com economia de mercado e respeito a contratos. Numa situação dessas, como você vai incentivar investimentos na região? ¿ pergunta.

Moreira chama de anacrônicas e ineficientes decisões unilaterais como a adotada por Morales, que ignorou contratos com empresas estrangeiras que operam na Bolívia e nacionalizou as reservas de gás e petróleo do país:

¿ Vejo nisso um retrocesso que vai jogar a região 50 anos para trás. Foi um caminho que perseguimos na década de 50, o da estatização, da nacionalização. Já sabemos que não funciona assim. O fim do filme a gente já conhece.

O diagnóstico é compartilhado por outros especialistas. Membro do conselho da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o economista Antonio Correa de Lacerda afirma que a América Latina tende a perder ainda mais espaço na divisão dos investimentos estrangeiros para outros blocos comerciais, especialmente Europa Oriental e Ásia:

¿ O investidor não teme nacionalismo ou idéias de esquerda. A China, que pratica uma forte intervenção de mercado, é exemplo disso. O que assusta é a quebra de contratos.

Cepal: países não atingiram potencial de atração

Números recentes indicam que a região tem perdido participação no bolo de investimentos mundiais. De acordo com dados da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), em 2005 o fluxo de investimentos diretos estrangeiros para os países latino-americanos somou US$61,6 bilhões, uma alta de apenas 0,1% na comparação com 2004. Enquanto isso, no resto do mundo o fluxo aumentou 29%. Para a Cepal, os países da região ¿não atingiram seu potencial como pólo de atração¿.

Os números da Cepal mostram também que o Brasil foi o segundo maior receptor de capital estrangeiro no ano passado, com US$15,1 bilhões, atrás apenas do México (US$17,8 bilhões). Segundo especialistas, a manutenção dessa situação relativamente confortável do Brasil está ligada mais às perspectivas de recuperação do mercado interno do que a uma estratégia para se diferenciar da economia dos demais países na região.

¿ No passado, o estrangeiro não fazia distinção na região. Todos tinham um histórico de desequilíbrio fiscal e monetário. Hoje, não mais. Mas o investidor também gosta de previsibilidade e espera uma reação do mercado interno ¿ afirmou o consultor Roberto Teixeira da Costa, fundador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e ex-presidente do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal).

A ONDA POPULISTA NA AMÉRICA LATINA, na página 46