Título: NATALIDADE NA ALEMANHA NUNCA FOI TÃO BAIXA
Autor: Julia Dias Carneiro
Fonte: O Globo, 07/05/2006, O Mundo, p. 49

Número de nascimentos em 2005 foi o mais baixo desde a 2ª Guerra e levou país a falar até em extinção

BERLIM. O temor de que a população alemã possa encolher a passos largos nas próximas décadas tem sido tema de dez entre dez jornais alemães nas últimas semanas. Enquanto os mais sensacionalistas alardeiam que o povo alemão está em risco de extinção, outros buscam causas e soluções para o fato de a Alemanha ter hoje o mais baixo índice de natalidade (8,5 por mil), e só estar à frente de outros três países na Europa em número de filhos por mulher: 1,36. Dando ainda mais força ao debate, o número de nascimentos em 2005 foi o mais baixo desde a Segunda Guerra: apenas 676 mil.

Diário mais lido no país, o sensacionalista ¿Bild-Zeitung¿ estampou a manchete: ¿Em 12 gerações nós alemães estaremos extintos¿. Sustentava a afirmação com o cálculo de que ¿em 2100 o número de alemães vai encolher para 46 milhões, em 2300 será de três milhões, estando à beira da extinção¿. Estimativas menos mirabolantes consideram que em 2050 a população terá dez milhões de pessoas a menos que os atuais 83 milhões. Até lá, porém, muito pode acontecer, lembra o estatístico Gerd Bosbach, professor da Universidade de Koblenz. ¿Um prognóstico feito em 1900 teria ignorado duas guerras e uma crise econômica mundial. O que acontece em 50 anos ninguém pode saber¿, relativizou ele ao ¿Berliner Zeitung¿.

Ainda assim, a pirâmide populacional vai encolhendo.

¿ Uma população estável precisa manter índices de dois filhos por mulher. Com os atuais, cada geração será um terço menor porque o grupo de pais em potencial diminui ¿ explica o pesquisador Steffen Kröhnert, do Instituto de População e Desenvolvimento de Berlim. ¿ Em países como EUA e Turquia, família é símbolo de status e boa cidadania. Sem filhos não se alcança posição social alta. Na Alemanha não.

Segundo o Ministério das Finanças, o Estado investe cem bilhões de euros por ano em incentivos às famílias: entre os benefícios, paga-se uma mesada de 154 euros por filho (para os primeiros três) e 179 euros para os posteriores, até 27 anos. Apesar disso, cada vez mais jovens optam por não ter filhos, divorciando-se de um modelo familiar que associam ao passado. Entre mulheres, é comum achar que filhos prejudicam a carreira ou a independência. Como solução, políticos e especialistas sugerem creches gratuitas.

A chanceler federal Angela Merkel reconhece que ¿não há futuro sem filhos¿ e estabeleceu o tema como prioridade. Mas ela própria não tem filhos.