Título: ENTRE AS JUSTIFICATIVAS, PROBLEMAS AMBIENTAIS E ALTA NO AÇO
Autor: Regina Alvarez, Flávia Barbosa e Monica Tavares
Fonte: O Globo, 08/05/2006, Economia, p. 15

Petrobras promete investimentos no setor de US$16 bilhões pelos próximos cinco anos

BRASÍLIA e RIO. O diretor de Petróleo e Gás da Petrobras, Ildo Sauer, admitiu que houve atrasos na construção de gasodutos no país e também na entrada em operação de alguns campos de gás natural. Mas ele disse que o gás não é um ¿produto de prateleira¿: uma empresa leva de sete a dez anos para conseguir que os empreendimentos comecem a operar. Sauer alertou ainda que o gás não é essencial como outros combustíveis. Ele se torna importante, defendeu, quando é incorporado definitivamente à matriz energética ¿ cuja participação do gás natural é de apenas 7,5%.

¿ O gás é diferente da eletricidade. O gás é uma atividade comercial, não é um serviço público essencial. Ele pode ser substituído, por exemplo, por óleo combustível, carvão ou GLP ¿ disse.

Um dos problemas que causou o atraso das obras foi a obtenção de licenciamento ambiental. No caso do gasoduto Campinas-Rio, um dos mais importantes da Região Sudeste, a demora foi de quase dois anos. Sauer contou que o contrato da obra foi assinado em setembro de 2002. Na época, não tinha licença ambiental e nem financiamento, que somente foi liberado em julho de 2003. O licenciamento saiu quase um ano depois, em agosto de 2004. Ildo Sauer disse que por causa disso, o projeto de US$1 bilhão ficou parado.

Outro problema que levou à demora dos empreendimentos foi a explosão do preço do aço no mercado internacional, no fim de 2004. Com isso, os orçamentos das obras duplicaram e os estudos de viabilidade tiveram que ser refeitos. Em um ano e meio, foram realizadas três licitações para que a Petrobras conseguisse preços razoáveis para a construção do gasoduto Urucu-Manaus, no Amazonas. Ildo Sauer contou que também houve necessidade de rever o estudo de viabilidade do Gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene).

O início de exploração da Bacia de Santos, a maior reserva de gás do país, atrasou um ano. Em abril de 2003, a Petrobras confirmou a descoberta. Mas a Agência Nacional do Petróleo (ANP) só endossou que a área era da companhia em 2004, após interpretações jurídicas do Ministério de Minas e Energia e do Tribunal de Contas da União (TCU).

A Petrobras deverá aumentar em 150% os investimentos no setor de gás natural e de gasodutos, passando de US$ 2,6 bilhões para US$6,5 bilhões. A estatal planeja investir em toda a cadeia produtiva do gás (exploração, produção, transporte e comercialização) cerca de US$16 bilhões em cinco anos. Desse total, só US$5,2 bilhões são para a construção de gasodutos.

Especialistas lembram ainda que um dos motivos para o Brasil não ter acelerado seus investimentos no aumento da produção de gás é porque já contratara a compra de até 30 milhões de metros cúbicos/dia da Bolívia. Pelas condições do contrato, o Brasil pagava mesmo sem consumir. (Mônica Tavares, Regina Alvarez e Ramona Ordoñez)