Título: SEGURO ANTI-BOLÍVIA
Autor: George Vidor
Fonte: O Globo, 08/05/2006, Economia, p. 16

A oferta de gás natural no Brasil deverá aumentar um pouco por causa dos poços que estão entrando em funcionamento na Bacia de Campos e no Espírito Santo, mas nada suficiente para nos livrar da Bolívia. Por isso, voltou a entrar em pauta a possibilidade de se importar gás liqüefeito, bem mais caro, pois exige sofisticadas instalações de regaseificação.

Antes mesmo que estourasse a crise da Bolívia, o Secretário de Energia e Petróleo do Rio, Wagner Victer, acenou ao diretor de gás da Petrobras, Ildo Sauer, com a proposta de o governo do estado conceder incentivos para que a empresa tenha uma instalação flutuante de regaseificação na Baía de Guanabara. Tal qual várias plataformas de produção de óleo e gás construídas sobre cascos de antigos petroleiros, a unidade de regaseificação ficaria dentro de um navio, e seria conectada à rede de dutos que passa por Duque de Caxias. Ao lado da refinaria está uma das maiores termelétricas brasileiras (TermoRio) e a sessenta quilômetros, em Seropédica, encontra-se uma outra (usina Barbosa Lima Sobrinho, ex-Eletrobolt).

A importação de GNL e a regaseificação na Baía de Guanabara funcionariam, então, como uma espécie de seguro antiapagão na Região Sudeste, além de ser anteparo para uma redução no fornecimento do gás boliviano, que pelo visto vai encarecer muito daqui para frente.

Os novos sócios da Light assumem a empresa conscientes de que terão um enorme abacaxi para descascar. As perdas de energia na empresa, por furto, fraudes ou problemas técnicos, chegam a 25%, em média, mas no caso da Baixada Fluminense o índice sobe para 55% e na Zona Oeste do Rio para 45%. Programas de computador já permitem identificar áreas e até residências onde os furtos estejam ocorrendo. Porém, o mais difícil é vencer a cultura do roubo de energia elétrica, que se disseminou na população ¿ e não se restringe às favelas.

Outras concessionárias também sofrem com o problema, como é o caso do fornecimento de água. O Poder Judiciário costuma ser complacente com os que furtam energia ou cometem fraudes contra as concessionárias.

Mas, de qualquer forma, a nova administração da Light pretende inverter esse quadro, com campanhas de cidadania e tentativas de levantar a auto-estima das pessoas que vivem nas suas áreas de concessão, todas atingidas pelo baixo astral que tomou conta do Estado do Rio.

Maior produtor e exportador de petróleo do Oeste da África, a Nigéria quer atrair investidores que possam produzir etanol ¿ tanto para uso na indústria como para queima como combustível ¿ no país e encomendou estudos a dois escritórios de advocacia (um deles do Brasil, com Alexandre Chequer à frente) para definir uma nova legislação a toque de caixa. Com os altos preços do petróleo, o etanol desponta como alternativa em várias partes do planeta.

Atualmente a Nigéria importa todo o álcool que consome e seu mercado interno está avaliado em cerca de US$4 bilhões anuais. A possibilidade de geração de empregos também seduz o governo nigeriano. Um investimento da ordem de US$60 milhões na cadeia produtiva do etanol é capaz de gerar 6.500 empregos, o que é tentador para um país com 130 milhões de habitantes e muitos desempregados.

O uso da biomassa para geração de energia também será incluído na nova legislação, aproveitando-se a experiência da Índia.

O Rio de Janeiro, que hoje responde por quase 50% da produção brasileira de gás natural (as unidades instaladas em Cabiúnas, no município de Macaé, têm capacidade para processar 21 milhões de metros cúbicos diários, enquanto o país importa da Bolívia cerca de 26 milhões de metros cúbicos), dará um salto quando os poços do bloco BS-500 entrarem em produção, no início da próxima década.

A produção do BS-500 está prevista para ocorrer quanto entrar em funcionamento o complexo petroquímico de Itaboraí, município limítrofe de Maricá, em cujas coordenadas está parte do bloco. Então, a probabilidade de vir a passar por ali um novo gasoduto aumentou com toda essa confusão causada por Evo Morales.

A produção do BS-400, na região limítrofe de São Paulo com o Rio, também poderia ser antecipada em doze meses, se chegar à terra por Itaguaí (já há até local próprio para isso, onde ficaria uma refinaria cujo projeto foi transferido para Itaboraí), pois assim se evitaria o desgaste de passar por áreas de proteção ambiental na Serra do Mar.

Mais uma curiosidade. A produção de gás natural da Petrobras na Bolívia é, ou era, da ordem de 8,5 milhões de metros cúbicos por dia. No Estado do Amazonas, a Petrobras produz um pouco menos...

O tal gasoduto cogitado para transportar a produção da Venezuela para os mercados brasileiro e argentino já está sendo chamado entre os especialistas do setor de Transpinel, uma alusão ao hospital na Zona Sul do Rio onde eram internados os loucos. Fala-se em investimento de US$25 bilhões sem que se saiba sequer qual o volume de gás disponível para ser transportado. Coisa mesmo de doido.