Título: Morales quer aumentar em US$2 preço do gás para Brasil e Argentina
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 08/05/2006, Economia, p. 16

Reajuste renderia à Bolívia US$600 milhões adicionais na arrecadação

LA PAZ e COCHABAMBA. O presidente da Bolívia, Evo Morales, planeja elevar o preço do gás natural vendido ao Brasil e à Argentina em US$2 por milhão de BTU (unidade térmica britânica) para enfrentar os problemas econômicos de seu país, informou ontem a Agência Boliviana de Informação (ABI). O reajuste de 61% no preço para o Brasil e de 77% para a Argentina renderia à Bolívia cerca de US$600 milhões, montante que, segundo Morales, permitiria enfrentar o déficit fiscal de US$300 milhões, sem recorrer à cooperação internacional.

Evo Morales disse que, nacionalizadas as reservas de petróleo e gás, terá início a negociação sobre os novos preços do produto exportado aos vizinhos. Segundo o presidente boliviano, Brasil e Argentina expressaram sua disposição de negociar o tema.

Hoje, a Bolívia vende gás ao Brasil por US$3,26 por milhão de BTU e à Argentina, por US$ 2,60, apesar de os preços internacionais estarem em US$9, segundo a ABI. Morales assinalou que, na reunião de chefes de Estado em Puerto Iguazú, na semana passada, ficou decidido que Brasil e Argentina negociarão os preços obedecendo à racionalidade econômica e ao interesse das partes:

¿ Agora, depende de nós. Nós podemos pôr o preço, mas para não perdemos a amizade, discutiremos (com os países) ¿ disse Morales, em discurso na abertura do 7º Congresso de Mulheres Camponesas do Trópico de Cochabamba.

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, disse que a posição brasileira será tomada a partir do recebimento da proposta formal de reajuste do governo boliviano. Uma reunião ministerial em La Paz será realizada nesta quarta-feira.

Já o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, afirmou que, até ontem, a companhia não tinha sido formalmente comunicada sobre a decisão da Bolívia de elevar os preços do gás para o Brasil. A Petrobras, disse, mantém a posição de não aceitar reajuste, mas aceita discutir a questão no prazo de 45 dias, conforme prevê o contrato com a YPFB, a estatal boliviana. A empresa brasileira mantém disposição de recorrer à Corte de Nova York, se não houver acordo.

Ontem, uma festa agropecuária em Pucarani, na região dos Chapares, onde se planta coca, transformou-se num ato em homenagem a Morales, pela nacionalização das reservas. Ele chegou à festa de helicóptero e lá ficou por duas horas. Nesse período, vestiu roupas indígenas e, em discurso para duas mil pessoas, disse que a nacionalização das riquezas do solo boliviano vai continuar.

* Com agências internacionais