Título: VALÉRIO TENTOU SUSPENDER LIQUIDAÇÃO DE BANCOS
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 09/05/2006, O País, p. 12

CPI: apenas com devolução do Mercantil de Pernambuco aos donos empresário receberia cerca de R$200 milhões

BRASÍLIA. A maior parte do caixa de R$1 bilhão que o empresário Marcos Valério pretendia arrecadar ¿ segundo o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira ¿ dependia da devolução de dois bancos, o Econômico e o Mercantil de Pernambuco, que estão sendo liquidados pelo Banco Central, aos seus antigos controladores. O empresário de fato planejou receber a comissão, mas o negócio foi barrado no Banco Central. Apenas com a suspensão da intervenção do banco pernambucano, que era do interesse do Banco Rural ¿ fonte de recursos para Valério e para o PT ¿ integrantes da CPI dos Correios estimaram que o mineiro esperava receber cerca de R$200 milhões.

Valério, segundo o relatório da CPI, tentava dobrar a resistência dos diretores do BC. Em depoimento na CPI, a presidente do Rural, Kátia Rabelo, admitiu que Valério funcionou como um facilitador do negócio no governo e que ela mesma se encontrou com o ex-ministro José Dirceu para tratar do assunto.

Aos parlamentares da CPI, o diretor do BC Paulo Cavalheiro também informou que Valério esteve no banco por pelo menos 17 vezes desde 26 de março de 2003, acompanhado de diretores do Banco Rural. O banco mineiro tem 22% do Mercantil de Pernambuco e tem interesse na suspensão da liquidação e na retomada dos ativos.

De olho no lucro da massa falida

Segundo o relatório da CPI, o ex-banqueiro Ângelo Calmon de Sá, antigo controlador do Econômico que pleiteava a mesma coisa que os dirigentes do Rural, também procurou o auxílio de Valério.

De acordo com o relatório da CPI, ao sofrerem uma intervenção do BC, Mercantil e Econômico foram obrigados a comprar títulos públicos cotados em dólar e dá-los ao BC em garantia aos empréstimos que receberam do Programa de Reestruturação do Sistema Financeiro (Proer).

Com a desvalorização do real, os papéis, corrigidos em dólar, teriam dado lucro para as massas falidas dos dois bancos. Por isso, os antigos controladores têm interesse em retomar os bancos, porque teriam recursos o suficiente para pagar a dívida com o BC e ficariam com a diferença, estimada pela CPI em aproximadamente R$1 bilhão. Assim, deixariam de ser devedores para serem credores da União. O entendimento dos técnicos do BC, entretanto, é de que os banqueiros falidos não deveriam sair das liquidações com dinheiro, com lucro.

¿ Houve uma tentativa de intermediação do Marcos Valério junto com o Delúbio Soares para levantar a liquidação, mas o BC foi contra. Tanto o presidente Henrique Meirelles quanto os diretores da área. A especulação é de que Valério lucraria R$200 milhões com a operação ¿ afirma o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), um dos sub-relatores da CPI dos Correios que investigaram o assunto.

Relatório da CPI revela encontros

Ontem, o Banco Mercantil S/A divulgou nota na qual informa que jamais esteve à venda e não participou de qualquer gestão na área administrativa para a aprovação oficial de uma operação desse tipo. ¿O Banco Mercantil deseja uma solução judicial, não administrativa, para o levantamento da liquidação extrajudicial. Eventuais gestões para a transferência de seu controle acionário, sem a participação do Banco Mercantil, foram feitas por entidades interessadas na compra. As gestões não prosperaram; e, de qualquer modo, esbarrariam na decisão do Banco Mercantil S/A de aguardar a definitiva solução judicial do caso¿, diz a nota.

O relatório da CPI dos Correios descreve ainda encontros de Valério com dirigentes do grupo Opportunity que disputava com os fundos de pensão de grandes estatais o controle da Brasil Telecom. ¿Não era somente com os bancos que o publicitário intermediava encontros e negociações com o governo federal. Sua amizade com Delúbio também lhe permitiu que marcasse uma reunião entre representantes do Grupo Opportunity e Delúbio Soares. O grupo era gestor, à época, da Brasil Telecom, que seria uma das fontes financiadoras do valerioduto, como será descrito adiante neste relatório. Em depoimento à CPI dos Correios, Marcos Valério admite que intermediou encontro entre Delúbio e o senhor Carlos Rodenburg¿, afirma o relatório da CPI.