Título: Primeira escala para a Varig
Autor: Erica Ribeiro e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 10/05/2006, Economia, p. 27

Modelo prevê leilão que poderá vender toda a empresa ou a parte doméstica

Oscredores da Varig aprovaram ontem um modelo de leilão para salvar a companhia aérea da falência. A proposta vencedora foi a que unificou as propostas desenhadas pela consultoria Alvarez & Marsal com o governo e pela associação Trabalhadores do Grupo Varig (TGV). Os investidores poderão fazer propostas tanto pelas operações domésticas da Varig quanto pela empresa inteira (incluindo as rotas internacionais). Em ambos os casos, o passivo da Varig, em torno de R$7 bilhões, permanece na companhia antiga, que continua em recuperação judicial.

Em no mínimo 60 dias, será feito o leilão. Antes disso, em 30 dias, os investidores interessados terão informações sobre a Varig e as opções de venda por meio de um data room. Os interessados deverão se pré-qualificar de acordo com critérios e normas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ¿ por exemplo, o capital estrangeiro é limitado a 20%.

O valor mínimo da parte doméstica da Varig é de US$700 milhões (cerca de R$1,44 bilhão) e o da Varig inteira, de US$860 milhões (aproximadamente R$1,77 bilhão). Os investidores poderão participar em consórcios. Segundo o diretor da consultoria Alvarez & Marsal, Marcelo Gomes, todos os envelopes serão abertos, já que o objetivo é a venda pelo maior valor absoluto oferecido, seja pela parte doméstica ou por toda a Varig.

Para comprar apenas a parte doméstica, é preciso haver uma companhia aérea de vôos regulares no consórcio. Nos bastidores, Gol, TAM e BRA sinalizaram que não têm interesse em participar. Segundo executivos, vários itens da proposta estão obscuros, como demissão de pessoal, despesas de manutenção com aviões e dívidas de leasing atrasadas. Um executivo disse que não há motivo para a compra, pois o mercado é aberto e as linhas são concessão do Estado ¿ e poderiam ser redistribuídas.

O presidente da Varig, Marcelo Bottini, afirmou que até o leilão não haverá demissões, a não ser as previstas nos planos de desligamento e aposentadoria voluntária. Bottini disse que desde janeiro 1.700 empregados da Varig já aderiram a um dos planos de desligamento. Quanto ao programa de milhagem Smiles, Bottini assegurou que os clientes não serão prejudicados, seja qual for o modelo escolhido pelos credores em leilão.

Se apenas a Varig doméstica for vendida, estão previstos acordos comerciais com a Varig Internacional, que ficará com o passivo e com a receita do Smiles. Bottini afirmou que não há risco de, no caso de uma concorrente comprar a parte doméstica, haver problemas na negociação.

No caso da venda de toda a companhia, haverá a criação da Varig Comercial, que será uma empresa prestadora de serviços para a nova empresa. A Varig Comercial ficará com o passivo e administrará o Smiles. A fatia da empresa que ficar com o passivo será controlada pelo Fundo de Investimentos e Participações (FIP), cujo gestor é o Banco Brascan.

Na assembléia de ontem, também foi aprovada a transferência das ações da Fundação Ruben Berta (FRB) para este fundo. No caso da venda da Varig doméstica, o FIP controla a Varig Internacional. Se toda a Varig for vendida, o FIP controlará a Varig Comercial. Segundo o diretor executivo do Banco Brascan, Isacson Casiuch, a transferência das ações da FRB deverá acontecer em um prazo de dez dias. Depois disso, o Brascan terá carta branca para fazer mudanças na diretoria e no conselho de administração da Varig. Os nomes serão escolhidos pela Alvarez & Marsal.

O clima dos funcionários da Varig antes e durante a escolha do plano na assembléia de credores foi de emoção. O hangar da Varig no aeroporto Santos Dumont, no Rio, foi ocupado pelos trabalhadores, que carregavam bandeiras do Brasil. Quando os aviões da Varig passavam próximo ao hangar eram aplaudidos pelos funcionários. Já os da TAM eram vaiados.

A unificação das propostas da Alvarez & Marsal e do TGV teve seu desenho final elaborado na manhã de ontem, horas antes de a assembléia acontecer. Na segunda-feira, a assembléia havia sido adiada pela superlotação do auditório da FRB na Ilha do Governador. O adiamento deu tempo para a negociação com os credores. O consultor Jayme Toscano, que também apresentou proposta na assembléia, não foi bem recebido, sobretudo pelos funcionários, pois não quis revelar de onde viriam os recursos para a compra da Varig por US$2,2 bilhões. As ações preferenciais da Varig fecharam ontem em alta de 20,98%, cotadas a R$4,90.