Título: Petrobras resiste à nomeação feita pela Bolívia
Autor: Monica Tavares, Ramona Ordoñez e Janaina
Fonte: O Globo, 10/05/2006, Economia, p. 30

Gabrielli, que foi à Venezuela discutir gasoduto, reagiu à indicação do governo de Morales para diretoria da empresa

BRASÍLIA, RIO e BUENOS AIRES. A Petrobras deu a entender que considerou precipitada a nomeação pelo governo boliviano de dois diretores para a Petrobras Bolívia Refinación S.A, dona das duas refinarias que terão que passar o controle das operações à estatal do país vizinho, a YPFB. A administração de Evo Morales será informada desta posição hoje, na reunião em La Paz que marcará o início das negociações sobre a nacionalização das reservas bolivianas e a fixação do preço do gás exportado para o Brasil. A informação é de José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, que lidera a missão com o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau.

Segundo Gabrielli ¿ que estava ontem em Caracas, na Venezuela, para discutir a retomada dos estudos de viabilidade do gasoduto sul-americano ¿ as indicações para os cargos foram uma iniciativa sem respaldo da Petrobras:

¿ Pretendemos colocar este ponto de discussão lá com a YPFB. Para transformá-los em diretores da Petrobras, uma série de procedimentos precisam anteriormente ser resolvidos.

`Países devem entender nossa situação¿, diz Morales

Em nota, a Petrobras deixou claro que a entrada de um representante do governo da Bolívia na direção da subsidiária terá que cumprir passos legais. Uma das primeiras medidas, segundo a Petrobras, é a negociação da contrapartida por parte da YPFB, ou seja, quanto vai pagar para ficar com o controle da empresa. Caso não haja indenização, a medida será considerada expropriação.

O decreto de nacionalização deu prazo de 180 dias para as companhias estrangeiras se adaptarem às novas regras e concluírem a transferência do controle acionário. A Petrobras quer um acordo em 45 dias, caso contrário recorrerá ao tribunal de Nova York. Ontem, na véspera da chegada da missão brasileira, o presidente da YPFB, Jorge Alvarado, disse que não aceitará o prazo mais curto.

¿ Não podemos nos submeter a qualquer tipo de pressão ¿ disse Alvarado.

Gabrielli não quis comentar as declarações atribuídas a Morales de que estaria disposto a negociar um reajuste abaixo dos US$2 para o preço do gás vendido ao Brasil. Perguntado sobre as negociações, Morales disse que o diálogo está aberto e que o reajuste dependerá da comissão técnica que trata do assunto:

¿ É importante que os países vizinhos entendam nossa situação financeira ¿ disse ele, que hoje viaja ao exterior, com escalas na Europa e EUA.

No caso de alterações na legislação da Venezuela, o aumento do imposto de extração não afetará a Petrobras, disse Gabrielli. Ele afirmou que a estatal já paga o valor final equivalente ao reajustado, pois o contrato já previa a nova alíquota. Sobre o gasoduto, em agosto os presidentes de Brasil, Argentina, Venezuela e Bolívia vão se reunir para discutir a implementação da obra, que interliga vários países da América do Sul.