Título: DITADURAS DEFENDERÃO DIREITOS HUMANOS NA ONU
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 10/05/2006, O Mundo, p. 35

Eleição de Cuba, Arábia Saudita e China para novo conselho causa polêmica. Brasil garante uma das 47 vagas

NOVA YORK. Cinco países considerados por grupos de direitos humanos como sendo alguns dos que mais desrespeitam os direitos humanos no mundo estão entre os 47 eleitos ontem para compor o Conselho dos Direitos Humanos: Cuba, Arábia Saudita, Paquistão, Rússia e China. A escolha do Azerbaijão também foi criticada.

O Conselho foi criado recentemente para substituir a Comissão de Direitos Humanos, que estava desacreditada justamente por ser integrada por membros com má reputação em direitos humanos.

O Brasil também foi eleito ontem para o novo conselho, recebendo o maior número de votos entre os oito países da América Latina que estarão representados .

¿ Isso significa confiança no Brasil, o reconhecimento que o respeito aos direitos humanos é uma política nacional ¿ disse o embaixador Ronaldo Sardenberg, chefe da missão brasileira na ONU.

O Conselho começará a funcionar no dia 9 de junho, em Genebra, mas já envolto em polêmica, já que nem todos os eleitos foram bem recebidos. O grupo de direitos humanos Human Rights Watch havia exortado a ONU a não eleger China, Cuba, Paquistão, Rússia e Arábia Saudita, mas um porta-voz do grupo reconheceu a escolha desses cinco países era esperada devido a seu poder político.

Até mesmo o diretor-executivo da Human Rights Watch, Kenneth Roth, disse que era inevitável a eleição de alguns países com história de desrespeito aos direitos humanos, mas ainda assim considerou o novo conselho um progresso, na medida em que a desacreditada Comissão de Direitos Humanos foi extinta.

¿ Isto não garante que o conselho será um sucesso, mas é um passo na direção certa ¿ afirmou.

Os Estados Unidos, que foram contra a criação do novo órgão, não quiseram se candidatar por temerem não conseguir os 96 votos necessários e acabaram como o único dos membros permanentes do Conselho de Segurança a não estar representado no Conselho de Direitos Humanos.

¿ Eu diria que o resultado era esperado ¿ afirmou o embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, acrescentando que deverá demorar dois a três anos para o novo conselho apresentar um desempenho melhor do que a comissão extinta.

Irã, Iraque e Venezuela se candidataram, mas não conseguiram vagas. Sudão e Zimbábue nem tentaram.

¿ Todos os membros eleitos concordaram em fazer uma revisão na sua política de direitos humanos ¿ disse o presidente da Assembléia Geral, Jan Eliasson, ao ser perguntado se o conselho ficaria prejudicado com a inclusão de países com histórico de desrespeito à dignidade humana.

As vagas para o novo conselho foram distribuídas por região: a América Latina e Caribe têm oito, África e Ásia ficaram com 13 representantes cada uma, Europa teve sete e leste da Europa, seis.