Título: CANIBAL ALEMÃO É CONDENADO A PRISÃO PERPÉTUA
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Fonte: O Globo, 10/05/2006, O Mundo, p. 36

Juiz muda sentença de homem que esquartejou vítima e comeu sua carne durante semanas

FRANKFURT. Julgado pela segunda vez, o alemão que matou um homem depois de comer seu pênis (com o consentimento da vítima, que também comeu o próprio órgão genital) e que depois se alimentou de carne humana durante semanas foi condenado ontem à prisão perpétua. Conhecido como o ¿canibal de Rotemburgo¿, Armin Meiwes, de 44 anos, recebera em 2004 uma sentença de oito anos e meio de prisão pelo crime macabro que chocou o país, e que foi gravado em vídeo pelo próprio autor. Mas promotores consideraram a sentença branda demais e apelaram.

Ao anunciar a sentença, o juiz Klaus Drescher desconsiderou o argumento da defesa de que, por ter o consentimento da vítima, o crime equivaleria a uma eutanásia, prática punida na Alemanha com pena máxima de cinco anos de prisão.

¿ O réu estava completamente consciente de suas ações e poderia tê-las controlado ¿ disse o juiz.

Canibal procurou vítima com anúncio na internet

Técnico em computadores, Meiwes não demonstrou emoção ao ouvir a sentença. Pela lei alemã, ele poderia ser libertado depois de 15 anos de prisão. Por entender que a vítima consentiu que ele a matasse, o tribunal negou um pedido de promotores para que esse direito lhe fosse negado.

A polícia prendeu Meiwes em dezembro de 2002, depois de um estudante da Áustria denunciar um anúncio que ele divulgava na internet, com o pseudônimo de Franky, procurando um homem jovem que concordasse em ¿ser assassinado e comido¿.

Meiwes se correspondeu com cerca de 400 pessoas na internet até fazer contato com Bernd-Juergen Brandes, de 43 anos, engenheiro especialista em tecnologia de informação que trabalhava na empresa alemã Siemens e que também pusera um anúncio na internet procurando alguém para pôr fim à sua vida ¿sem deixar traços¿.

Em março de 2001, Brandes foi de trem a Rotemburgo para se encontrar com Meiwes em sua casa. Num vídeo, o canibal gravou a si próprio cortando o pênis da vítima com uma faca antes de os dois comerem o órgão genital. Sangrando abundantemente, Brandes perdeu a consciência. Meiwes o pôs na cama, beijou-o nos lábios e cortou sua garganta com uma faca, matando-o. Depois de pendurar o corpo da vítima num gancho de carne, comentou, segundo o juiz: ¿O próximo deve ser jovem, mas não tão gordo.¿

No primeiro julgamento, o canibal afirmou que, apesar de ter cozinhado e temperado o órgão genital, os dois acharam a carne difícil de mastigar.

Meiwes esquartejou o corpo de Brandes e enterrou ossos, pele e vísceras no jardim. Cortou a carne em pedaços que pôs em pacotes com rótulos que indicavam serem bifes e os guardou no congelador, entre outros alimentos. Nas semanas seguintes, comeu cerca de 20 quilos da carne ¿ depois de cozinhá-la e temperá-la com sal e pimenta ¿ acompanhada de repolho roxo e batatas.

Vizinhos descreveram Meiwes como uma pessoa educada e tranqüila. Segundo o juiz, é um doente mental, embora consciente de suas ações. Um psicólogo ouvido no tribunal afirmou que a fantasia de Meiwes está relacionada ao fato de seu pai ter abandonado a família, bem como à sua mãe dominadora e amarga. Seu desejo de comer alguém teria origem no desejo de encontrar um parceiro que não o abandonasse.

Meiwes disse que saciou sua fome de carne humana

O segundo processo contra Meiwes foi aberto em janeiro, depois de um tribunal de apelação anular o veredicto inicial, que considerava o crime homicídio não intencional. A Suprema Corte Federal entendeu que o primeiro julgamento não levou em conta vários indícios agravantes. Trata-se de um caso sem precedentes que suscitou diversas questões jurídicas devido ao suposto consentimento da vítima, e que revelou um mundo de aberrações na internet.

Meiwes afirmou no tribunal que Brandes foi morto depois de tomar remédios para perder a consciência e que hesitou antes de matá-lo. Disse ainda que saciou sua fome de carne humana e se arrepende de seus atos:

¿ Eu queria comê-lo, mas não assassiná-lo.