Título: ESTADO DE SILVIO PROVOCA IRRITAÇÃO E IRONIA NA CPI
Autor: Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 11/05/2006, O País, p. 4

Psiquiatra do Senado foi chamado e disse que ele parecia bem, `sem nada de anormal¿

BRASÍLIA. Bastou Silvio Pereira pôr os pés na sala da CPI dos Bingos para que senadores, jornalistas e leigos de plantão começassem a arriscar palpites sobre o seu estado de saúde. O laudo anexado na véspera à ação em que o ex-petista tentou impedir a realização do depoimento ¿ seus médicos levantam a hipótese até de suicídio ¿ despertou curiosidade. No início, a divergência imperou. Mas coube ao psiquiatra do Senado, José Mário Simil, a opinião que logo virou senso comum.

¿ De longe ele me parece muito bem, não vejo nada de anormal ¿ disse Simil, que por ordem do presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), ficou de prontidão durante as sete horas de depoimento com mais dois médicos.

Mas Silvinho chegou ao local parecendo estar sedado, com os olhos vermelhos e aparentando ter chorado. Nos primeiros minutos, parecia ter dificuldade para entender as perguntas e respondia quase sempre sussurrando. Na primeira hora, pediu para ir ao banheiro. Na pausa, disseram os médicos do Senado, tomou um comprimido de Lexotan.

Aos poucos ¿ e dependendo do assunto abordado ¿ Silvio foi se soltando. Logo foi alvo de senadores da oposição:

¿ Juro que no início do depoimento tive pena de Vossa Senhoria, mas agora já está todo serelepe ¿ disse o senador Agripino Maia, líder do PFL.

Silvio provocou gargalhadas ao pôr sobre a bancada um vidro semelhante ao de remédios homeopáticos em gotas. Os senadores quiseram saber o conteúdo da embalagem.

¿ Aqui é limão! São gotas de limão! ¿ justificou.

¿ Só se for limão amigo (batida de limão)! ¿ respondeu um senador.

Petistas ofereceram abraços e lanche a ex-dirigente

Antes do depoimento começar, porém, o clima era tenso. Alguns parlamentares se surpreenderam com afagos dos petistas ao ex-companheiro, destoando do comportamento da maioria dos petistas nos últimos dias, com críticas e cobranças a Silvio. Eduardo Suplicy (PT-SP) acompanhou Silvio à ante-sala da CPI e ofereceu um lanche. Tião Viana (PT-AC) se levantou para dar-lhe um abraço.

Durante o debate, senadores perderam a paciência com as respostas evasivas e confusas de Silvio. Demóstenes Torres (PFL-GO) perguntou se ele era louco ou estaria sofrendo do mal de Alzheimer, por não se lembrar de fatos recentes.

¿ Não vou responder a isso. Tenho o direito de discutir minha saúde apenas com minha família ¿ reagiu Silvio, irritado.

No fim, melancólico, Silvio alegou que poderia ter fantasiado algumas declarações dadas ao GLOBO. Perguntado por Tasso Jereissati (PSDB-CE) se havia tido momentos de delírio antes do dia da entrevista, disse:

¿ Infelizmente sim, não foi a primeira vez.