Título: DEPUTADOS DIZEM QUE SÃO OBRIGADOS A DESTINAR EMENDAS PARA A SAÚDE
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 11/05/2006, O País, p. 16

Querem jogar a sujeira para o lado de cá¿, diz parlamentar mineiro

BRASÍLIA. Parlamentares acusados pela ex-funcionária do ministério da Saúde Maria da Penha Lino de envolvimento no esquema de liberação de emenda superfaturada para compra de ambulâncias defenderam-se ontem das denúncias. Os deputados negam envolvimento, justificam que são obrigados a destinar 30% das emendas para a área da saúde e que os prefeitos a que atendem solicitam ambulâncias para seus municípios.

O deputado Cabo Júlio (PMDB-MG) disse que de fato incluiu emendas destinando recursos para aquisição de ambulâncias por ter que destinar 30% para essa área. Ele disse que os prefeitos nem formam a sua principal base política em Minas Gerais:

¿ Tenho 80 vereadores e seis prefeitos. Meu voto não está nas prefeituras. A culpa nesse escândalo não é dos deputados autores de emendas, mas do outro lado, do governo na hora da liberação. Querem jogar a sujeira para o lado de cá.

O deputado mineiro afirmou que foi procurado por pelo menos seis pessoas ligadas à empresa Planam, que vendia para as prefeituras as ambulâncias superfaturadas.

O deputado Ênio Tatico (PTB-GO) confirmou que destinou emendas para a compra de duas ambulâncias, para as cidades de Morrinhos e Mara Rosa. Ele disse que Maria da Penha procura se defender ao acusar parlamentares.

¿ Ela quer envolver o maior número de pessoas para se safar ¿ disse Tatico.

¿Não devo nada e não negocio emenda¿

O vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), negou com veemência qualquer envolvimento na liberação dessas emendas. Ele disse que nunca viu Maria da Penha Lino na sua vida, que não trabalha pela liberação desses recursos e afirmou estar surpreendido com a citação de seu nome:

¿ Não devo nada e não negocio emenda. Faço minhas emendas desde que a inventaram. Nem de longe imaginei haver qualquer tipo de irregularidade. Nem mexo, nem olho, nem ligo para as emendas, que, aliás, sou contra. No governo Lula, fui apenas uma vez ao Ministério da Saúde, acompanhando o secretário municipal de Saúde de Alagoas.

Para o deputado, o crime não é a emenda mas a delinquência que se faz em torno dela. Nonô disse que destina emendas para compra de ambulâncias, mas depois de ouvir os prefeitos de sua base eleitoral.

¿ Tenho emenda de compra de ambulância, de construção de maternidade, de calçamento, de educação, habitação e etc. Ligo para os prefeitos e pergunto o que eles querem. Sempre procuro atender a reivindicação da base.

A deputada Kátia Abreu (PFL-TO) disse, por intermédio da assessoria de imprensa do PFL, que apresentou quatro emendas para compra de mamógrafos, uma deles instalados numa unidade móvel, as chamadas ambulâncias especiais. Ela sustenta, no entanto, que não conhece nenhum dos empresários presos na Operação Sanguessuga.

¿ Ela só fez isso para reforçar a campanha do PFL contra o câncer de mama ¿ disse uma das assessoras do partido.