Título: Câmara vai investigar logo apenas 16 deputados
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 11/05/2006, O País, p. 16

Nilton Capixaba, cujo assessor forneceu senha exclusiva para empresário acusado de chefiar máfia, ficou de fora

BRASÍLIA. A pressão de líderes partidários e o espírito de corpo pesaram ontem na decisão da Mesa da Câmara de reduzir a lista dos deputados que serão investigados por envolvimento com a quadrilha que fraudava licitações para compra de ambulâncias. A lista tem apenas 16 deputados. A pressão foi tanta que foram excluídos do pedido de investigação os dois principais acusados de envolvimento com a máfia das ambulâncias: o segundo secretário da Presidência Nilton Capixaba (PTB-RO) e Elaine Costa (PTB-RJ).

O corregedor Ciro Nogueira (PP-PI) levou para a reunião uma relação, aprovada por unanimidade e depois reformulada antes da divulgação oficial. Quase duas horas depois de muito entra e sai de líderes e parlamentares de sua sala, ele anunciou que dos primeiros 64 deputados relacionados pela Polícia Federal, apenas 16 serão investigados imediatamente. Uma comissão de sindicância terá 30 dias para decidir quem vai ser levado ao Conselho de Ética.

A corregedoria dividiu os parlamentares em cinco grupos: os que tiveram servidores acusados de receber propina (3 deputados); os citados pela PF como recebedores de dinheiro (16 deputados); aqueles cujo envolvimento ainda é duvidoso e por isso serão solicitadas mais informações (2 deputados); os previamente inocentados (36 deputados); os que tiveram servidores presos e a investigação fica suspensa (7 deputados).

Os 36 considerados inocentes tiveram a representação arquivada. Neste grupo estão os outros dois membros da Mesa: o quarto secretário João Caldas (PL-AL) e o terceiro secretário Eduardo Gomes (PSDB-TO). Na lista está também Laura Carneiro (PFL-RJ), cujo assessor foi flagrado falando de um acerto de dinheiro com integrantes da máfia que seria para a deputada.

¿ O critério da exclusão foi a ausência de indícios e de informações complementares no relatório da Polícia Federal. Isso não significa que, havendo novas informações, a Corregedoria não possa adotar novas providências ¿ disse Aldo.

Capixaba não será investigado ainda porque a Mesa entendeu que seus funcionários é que foram acusados de receber dinheiro. Mas seu caso é mais complicado. Com sua senha exclusiva de parlamentar, o empresário Luiz Antônio Vedoin, preso e apontado como o chefe da máfia, tinha acesso ao site do Fundo Nacional de Saúde, onde se indicava entidades a serem beneficiadas por emendas parlamentares.

A senha foi dada a Vedoin por Francisco Machado, assessor do deputado. Machado é o que discutiu com Vedoin a possibilidade de matar um jornalista que investigava as fraudes.

Petebistas se reúnem com Nogueira antes da divulgação

A direção da Câmara aguarda agora que a Justiça envie a nova lista de deputados acusados pela servidora Maria da Penha Lino, que pode chegar a 170 parlamentares.

¿ Esse é o maior escândalo de corrupção da Câmara ¿ reconheceu Ciro Nogueira.

Entre os que tiveram o processo arquivado estão os deputados Denise Frossard (PPS-RJ), Eduardo Paes (PSDB-RJ) e o líder do PFL Rodrigo Maia (RJ). A Câmara considerou que eles foram apenas citados e não têm ligação com o esquema.

Antes da divulgação da lista, logo depois da reunião da Mesa, o líder do PTB José Múcio Monteiro (PE) e o deputado Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-RJ) se foram ao gabinete do corregedor. Segundo Fleury, foram lá apenas saber os critérios de divisão dos acusados. Depois do encontro com os petebistas e o líder do PL, Luciano Castro (AM), Ciro pegou a lista e correu ao gabinete de Aldo. Elaine Costa e Capixaba são do PTB.

Elaine ficou no grupo dos que tiveram assessores presos e vão aguardar a conclusão da sindicância da Diretoria Geral da Câmara para apurar o envolvimento dos funcionários Nivea Oliveira e Marco Antonio, o Marquinho, que falavam, nas conversas gravadas, de depósitos para a deputada. Ao ser perguntado se estava negociando a retirada de nomes, Nogueira ficou irritado e pediu que o respeitassem:

¿ Por que a lista foi refeita? Tínhamos dúvidas sobre alguns nomes citados que tiveram assessores presos, para incluir, ou estávamos querendo identificar nomes iguais. Pior é culpar um inocente se não tem indício no relatório encaminhado pela Policia Federal.

Os deputados Raul Jungmann (PPS-PE) e Fernando Gabeira (PV-RJ) começaram a colher assinaturas para criação de uma CPI mista para investigar as denúncias. São necessárias 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado para a aprová-la.