Título: Motorista diz que propina era levada em malas
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Fonte: O Globo, 11/05/2006, O País, p. 17

Testemunha confirmou que o empresário Darci Vedoin entregava dinheiro aos parlamentares no Congresso

BRASÍLIA. Em entrevista ao ¿Jornal Nacional¿, da TV Globo, uma testemunha que já prestou depoimento à Polícia Federal contou como a quadrilha que desviava recursos federais destinados a compra de ambulâncias levava o dinheiro para o Congresso Nacional. O homem que acompanhava o dono da Planam, Darci Vedoin, ao Congresso não quis se identificar por razões de segurança. A testemunha contou que viu Vedoin várias vezes carregando malas de dinheiro para a Câmara dos Deputados.

¿ Aproximadamente R$30 mil mais ou menos ¿ disse na entrevista à TV Globo.

Vedoin, segundo a testemunha, tomava cuidado para não ser flagrado com tanto dinheiro.

¿ Eles deixavam esse dinheiro dentro do carro e algumas vezes botava no paletó e nas meias ¿ contou.

Em depoimento ao Ministério Público e à Polícia Federal, a ex-assessora especial do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino disse que o dinheiro do suborno dos parlamentares era levado para a Câmara por Felipe Fernandes Freitas, motorista de Darci Vedoin, apontado como o chefe da organização dos sanguessugas. Freitas, Darci e outros dois supostos integrantes do comando da organização retiravam o dinheiro numa agência do Banco Itaú, no Setor Comercial Sul, e seguiam para o Congresso. Antes de passar pela portaria, eles escondiam o dinheiro em meias, cuecas e nos bolsos de paletós para não despertar a atenção dos seguranças.

Mais de uma viagem para entregar o dinheiro

Segundo Maria da Penha, o dinheiro do suborno era farto. Algumas vezes, Fernandes Freitas era obrigado a fazer mais de uma viagem à Câmara para pagar todos os beneficiários da organização. ¿O motorista mais de uma viagem para recarregar o carro (de dinheiro)¿, disse Penha. O dinheiro seria destinado a parlamentares e assessores que apresentavam emendas ao Orçamento da União para financiar a compra de ambulâncias superfaturadas por prefeituras municipais, entre outros itens relacionados a saúde e também ao Programa de Inclusão Digital, do Ministério de Ciência e Tecnologia.

No depoimento ao delegado Tardelli Boaventura e ao procurador da República Mário Lúcio Avelar, Penha sustenta que, em 2004, pelo menos 169 deputados e um senador mantinham estreitos vínculos com a organização. A denúncia representa um duro golpe no chamado baixo clero. Quase todos os parlamentares acusados de pertencer à bancada dos sanguessugas são de pouca expressão, ou seja, estão incluídos no baixo clero. Embora desconhecidos no plano nacional, estes deputados têm peso decisivo nas votações mais importantes e até na escolha da Mesa Diretora da Câmara.