Título: INFLAÇÃO ANUAL PELO IPCA É A MENOR DESDE 1999
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 11/05/2006, Economia, p. 35

Combustíveis e dólar baixo fazem taxa recuar para 0,21% em abril e índice em 12 meses cai a 4,63%, perto da meta

Produtos agrícolas no período de safra, câmbio favorável e uma trégua dos preços de álcool e gasolina levaram o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a variar 0,21% em abril, menos da metade dos 0,43% de março. Com o resultado, a inflação acumulada nos últimos 12 meses recuou para 4,63% ¿ abaixo dos 5,32% verificados em março e muito inferior ao que se viu há um ano, quando o índice atingira 8,07%. Além disso, essa é a menor taxa desde julho de 1999, que registrara 4,57% no acumulado em 12 meses. Segundo analistas, o cenário atual indica que o país vai atingir no fim do ano, com folga, o centro da meta de inflação fixada pelo governo (4,5%).

¿ Em abril, findou a pressão dos combustíveis e, com isso, a taxa baixou bastante. O álcool teve queda de 0,11% e a gasolina, de 0,09%. Por trás disso, está a agricultura: as pressões do álcool vinham devido à safra da cana-de-açúcar ¿ disse ontem a economista do IBGE Eulina Nunes.

Queda nos preços de frango, feijão, arroz, óleo e frutas

A produção agrícola levou o grupo alimentos e bebidas a apresentar deflação (queda nos preços) de 0,27% em abril. O consumidor levou à mesa produtos mais baratos: feijão (-3,51%), arroz (-2,33%), óleo de soja (-1,16%) e frutas (-5,20%).

¿ A previsão é de uma safra 8% maior do que a de 2005, apesar de recuos na área plantada. Mas o câmbio ajuda nos preços ¿ explicou Eulina.

Apesar da safra, o frango continua a ser o destaque entre os alimentos. Ainda que com recuo de preços menos intenso (passou de -12,15% para -5,93%), o produto foi a maior contribuição para a desaceleração do IPCA.

¿ A oferta de frango não está tão grande. O setor está se ajustando à realidade ¿ afirmou a economista.

Mas o IPCA apresentou pressões em abril. Os remédios (2,03%) representaram a maior contribuição para a alta do índice, refletindo o reajuste médio de 5,5% autorizado pelo governo. Também registraram alta os artigos de vestuário (1,18%), devido à mudança de coleção, energia elétrica (1,23%), tarifa de táxi (1,82%) e planos de saúde (1,04%).

A economista Maria Andréia Parente, do Ipea, fez uma avaliação positiva do IPCA de abril. Isso porque o índice veio abaixo das expectativas do mercado ¿ de 0,25%. E, continua ela, os preços administrados, vilões da inflação de 2005, estão sob controle, com alta de 0,54%, quase a metade do que se viu em abril do ano passado (1,14%).

¿ De um lado, os preços livres estão influenciados pelo recuo do álcool. Do outro, os alimentos dão um refresco para o índice. Além disso, há a questão do dólar em baixa ¿ disse Maria Andréia, para quem o IPCA de maio deve fechar entre 0,20% e 0,25%.

O atual cenário leva o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, a prever que o IPCA de 12 meses atinja o centro da meta já entre julho e setembro. Eulina, do IBGE, também não acredita em fortes pressões no IPCA de maio. A não ser, disse, resíduos de reajustes de remédios e de energia elétrica:

¿ Câmbio favorece a não pressão sobre commodities, clima favorável ajudando a agricultura e inflação inercial nos preços administrados.

FGV: IGP-DI saiu de deflação para alta de 0,02% em abril

O economista da PUC-Rio, no entanto, faz um alerta a médio prazo. Para ele, há incertezas no câmbio no fim do ano, até por razões de mudança de governo.

¿ Também são um risco potencial, no fim do ano, os preços da gasolina e do petróleo. Ainda há a questão dos produtores, que estão se manifestando em todo o país, por conta dos preços baixos ¿ afirmou Cunha que, apesar do alerta, acredita que o BC deve fazer um corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (hoje em 15,75% ao ano).

Ontem, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou o Índice de Geral de Preços (IGP-DI), que em abril variou 0,02%, contra -0,45% em março. Os principais componentes do índice avançaram nesse mês. Os preços no atacado, que respondem por 60% da taxa geral, passaram de -0,82% para -0,15%. Também subiram os preços para o consumidor, que têm peso de 30% no IGP-DI: de 0,22% para 0,34%.

¿ Apesar da alta, não há indícios de tendência de alta da inflação. Até porque inflação em torno de zero não é normal. Isso mostra que alguns itens que estavam em queda, como o frango, chegaram ao seu limite de deflação ¿ disse Salomão Quadros, economista da FGV.