Título: O PRÍNCIPE DE NÁPOLES
Autor: Vera Gonçalves de Araújo
Fonte: O Globo, 11/05/2006, O Mundo, p. 45

Presidente é esquerdista atípico

ROMA. Giorgio Napolitano foi homem de partido desde 1943, quando entrou na resistência antifascista, aos 18 anos ¿ e no Partido Comunista Italiano aos 20 ¿ até ontem, quando assumiu um cargo que é símbolo da unidade nacional. Costuma ser descrito como um lorde inglês nascido em Nápoles por engano. Em Nápoles, sempre foi chamado de príncipe, até porque se parece muito com o ex-rei da Itália Umberto de Savóia, morto no exílio em Cascais.

Na juventude, Napolitano tentou a carreira de ator de teatro. Pacato, sério e comedido, é difícil imaginá-lo num exuberante palco italiano. Como presidente da Câmara dos Deputados em 1992, conseguiu evitar a tradição de insultos e brigas na agitada câmara baixa. Como ministro do Interior no governo de Romano Prodi (1996), conquistou a estima de chefes da polícia, tradicionalmente ligados a ministros da Democracia Cristã.

No Partido Comunista, Napolitano sempre fez parte da direita social-democrata e reformista. Nos anos 80 ¿ bem antes da queda do Muro de Berlim ¿ propunha a definitiva social-democratização do partido, possivelmente unificando-o com o partido socialista de Bettino Craxi. Com a morte do PCI e o nascimento do PDS, em 1991, circulava uma piada: Napolitano teria proposto a substituição da tradicional carteirinha do partido por um cartão de crédito. ¿É o comunista menos comunista que já conheci¿, dizia dele o jornalista Indro Montanelli, direitista e anti-Berlusconi. (Vera Gonçalves de Araújo)