Título: PF INICIA ACAREAÇÕES EM CUIABÁ
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 12/05/2006, O País, p. 3

Ex-deputado Bispo Rodrigues foi interrogado junto com laranja

CUIABÁ (MT). A Polícia Federal iniciou ontem as acareações entre os acusados de participar do esquema de fraudes com verbas da saúde. À tarde, o ex-deputado federal Bispo Rodrigues (sem partido), suspeito de receber pelo menos R$59 mil do esquema descoberto pela Operação Sanguessuga, foi confrontado com Ricardo Waldman Brasil, que seria laranja do empresário Darci José Vedoin, dono da Planam e apontado pela PF como o chefe da organização.

Os dois estão presos no anexo da penitenciária regional de Pascoal Ramos, em Cuiabá, e foram levados num camburão até a sede da PF. Segundo a PF, o papel do ex-deputado na quadrilha seria o de direcionar emendas parlamentares a prefeituras indicadas pela Planam. Já Ricardo Brasil aparece como sócio-proprietário da empresa Suprema-Rio Comércio de Equipamentos de Segurança e Representações, no Rio, que seria de fachada.

As escutas telefônicas feitas pela PF durante a investigação mostram forte interação entre Rodrigues e Ricardo Brasil. Em conversa com uma funcionária da Planam, gravada com autorização judicial, Ricardo Brasil pergunta se já estão disponíveis os R$9 mil ¿do Carlos Rodrigues¿. Para o delegado Tardelli Boaventura, o diálogo mostra que Ricardo Brasil era apenas um intermediário no esquema de Vedoin.

Bispo Rodrigues também recebeu dinheiro diretamente de Vedoin. Outra escuta mostra os filhos de Vedoin, ambos diretores da Planam, conversando sobre pagamentos a serem feitos. Entre os beneficiados, aparece Rodrigues, a quem a Planam programava destinar R$50 mil nesse dia.

Ao chegar à PF, Rodrigues negou ter recebido propina de Ricardo Brasil.

¿ Eu fiz negócio com o patrão dele (Vedoin). E foram negócios lícitos ¿ afirmou. Brasil não falou.

As investigações, no entanto, revelam que a citação sobre o pagamento a Bispo Rodrigues ocorreu um dia depois de o Ministério da Saúde depositar R$700 mil na conta da prefeitura de Trajano de Moraes (RJ), referente a um convênio cuja licitação fora vencida pela Planam. A emenda que viabilizou o recurso é de Rodrigues.

A PF ainda não decidiu a data da acareação entre a ex-assessora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino e Darci Vedoin, que deveria ter ocorrido ontem. Apesar do segredo de Justiça, a PF confirmou ontem que servidora da Câmara Nívea Ribeiro, assessora da deputada federal Elaine Costa (PTB-RJ), já protocolou um pedido para auxiliar nas investigações em troca do abrandamento da pena.

Motorista confirma na PF que levou empresários à Câmara

O motorista da Fernando Freitas Phelipe afirmou, em depoimento à PF, que levou várias vezes os empresários Darci Vedoin, Luiz Antônio Vedoin e Ronildo Medeiros para fazer pagamentos a aliados no Congresso. O motorista confirmou que, para não chamar a atenção dos seguranças, os empresários escondiam maços de notas de R$50 em meias e bolsos de paletó. As visitas ao Congresso eram freqüentes e, antes delas, os empresários sacavam em espécie R$30 mil.

O motorista disse que não sabe quem recebia o dinheiro. Mas ouviu várias vezes os patrões dizerem que iriam aos gabinetes dos deputados Paulo Baltazar (PSB-RJ) e José Divino (PRB-RJ). Conversas gravadas pela PF mostram integrantes da quadrilha combinando pagamento com um assessor de Baltazar. Relatório reservado da PF informa também que José Divino indicou Maria da Penha para o cargo de assessora especial do gabinete do ministro da Saúde.

COLABOROU: Jailton de Carvalho