Título: Governistas se rebelam contra lista na Câmara
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 12/05/2006, O País, p. 3

Líderes querem nomes só após a conclusão das investigações

Um dia depois de a Mesa da Câmara decidir que só 16 deputados serão investigados logo por envolvimento com a quadrilha que fraudava licitações para a compra de ambulâncias, os líderes dos partidos da base do governo se rebelaram ontem e exigiram que o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), negue-se a receber a nova lista de parlamentares suspeitos, esta elaborada a partir do depoimento de Maria da Penha Lino, que era assessora especial do Ministério da Saúde e foi presa na Operação Sanguessuga.

Os líderes de PT, PTB, PMDB, PSB e PL querem que, antes de enviar a lista, a Polícia Federal e o Ministério Público concluam as investigações e apontem qual deputado comprovadamente recebeu propina na liberação de emendas ao Orçamento de interesse da quadrilha. Também exigem que Aldo assuma uma posição firme de defesa dos parlamentares, inclusive em cadeia de rádio e TV. De manhã, chegou à Corregedoria uma nova lista com 81 nomes de deputados acusados por Maria da Penha. Os líderes se reuniram com o líder do governo, Arlindo Chinaglia, e decidiram pressionar Aldo a rejeitar a nova lista.

A sessão da Câmara se transformou num muro de lamentações, com deputados chorando e pedindo aos líderes que retirassem seu nome da recomendação de investigação na comissão de sindicância. O deputado Wellington Fagundes (PL-MT) disse que os líderes fariam um carta pedindo a Aldo que retirasse seu nome, mas não teve sucesso. O líder do PL, Luciano Castro (AM), incluído na lista de Penha, foi à tribuna e chorou ao dizer que estava muito nervoso porque estava sendo violentado e massacrado sem direito de defesa.

A lista com os 81 novos nomes chegou à Corregedoria quando os membros da Comissão de Sindicância aprovavam a convocação de 28 pessoas para depor na investigação dos primeiros 16 acusados. Entre os convocados estão o delegado da PF Tardelli Boaventura e Maria da Penha, além dos investigados. Chinaglia e o líder do PTB, José Múcio, comandaram a reação da Câmara às listas.

¿ Do jeito que a funcionária falou, envolvendo 170 nomes, fica uma coisa horripilante pensar que tantos deputados estão envolvidos num esquema como este. A PF e o Ministério Público têm o dever de concluir o trabalho de investigação antes de mandar lista para cá. Uma lista de 81 nomes porque uma funcionária lembrou? Com uma delação premiada faz acusações a granel? Isso é rigorosamente insuficiente ¿ disse Chinaglia.

Oposição insiste em criar uma CPI

Chinaglia cobrou de Aldo um pronunciamento em cadeia de rádio e TV para explicar a confusão da mistura de nomes de culpados e inocentes. Os líderes aliados também querem que Aldo, por meio da Procuradoria da Casa, envie representação contra o delegado e o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pelo vazamento de informações que estão em segredo de Justiça.

¿ A Mesa precisa tomar uma posição. Temos de ser enérgicos com culpados mas também com quem acusa irresponsavelmente ¿ cobrou Múcio.

A PF divulgou nota para rebater as acusações de que está fazendo acusações precipitadas. Ela diz que atendeu a pedido da Justiça Federal e enviou lista de nomes de parlamentares citados na investigação. ¿A Polícia Federal investigou e investiga apenas pessoas que não gozam de prerrogativa de foro especial, sendo descabidas as insinuações de que tenha produzido relatórios sobre o envolvimento de parlamentares nos crimes em questão¿.

Os líderes da oposição estão descrentes até do resultado da investigação contra os 16 parlamentares levados à Corregedoria. O PV e PSOL tentam colher assinaturas para instalação de uma CPI das ambulâncias. Mas sabem que não há condições políticas para ela prosperar. Ontem tinham apenas 25 assinaturas das 170 necessárias. Outra alternativa é criar uma comissão externa para acompanhar as investigações da PF e do MP.