Título: GOVERNO EXPRESSA SUA INDIGNAÇÃO
Autor: Soraya Aggege e Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 12/05/2006, Economia, p. 25

Petrobras afirma estar dentro da lei. Lula e Morales se reúnem hoje

VIENA. O governo brasileiro ficou indignado com as declarações do presidente da Bolívia, Evo Morales. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, esforçou-se para demonstrar tranqüilidade, mas não conseguiu. Ele admitiu que se pudesse abrir mão da linguagem diplomática não diria apenas que o governo lamentou e estranhou as declarações:

¿Traduzir essa estranheza por indignação não é incorreto.

A Petrobras também se declarou surpresa e indignada. Em nota, disse que atua sempre dentro das leis e suas atividades na Bolívia decorrem de acordos bilaterais. Segundo a estatal, cabe à Justiça e à arbitragem internacional julgar a legalidade dos contratos, não ao Poder Executivo da Bolívia.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já desembarcou ontem em Viena sob a pressão das declarações de Morales, cuja entrevista fora gravada por seus assessores. Os dois presidentes devem se reunir hoje. Apesar de Lula querer manter o foco nas discussões comerciais, o Itamaraty o aconselhou a reagir com firmeza.

Amorim disse que as declarações de Morales contradizem as decisões do encontro de Puerto Iguazú, na semana passada, e da reunião entre a Petrobras e o Ministério dos Hidrocarbonetos da Bolívia, anteontem. O chanceler admitiu que a situação ficou muita tensa e frisou que espera que a Bolívia ¿trate com dignidade¿ os brasileiros na Bolívia.

Ele admitiu que as críticas de Morales foram das mais pesadas já dirigidas ao Brasil em uma cúpula internacional. Perguntado por jornalistas se a reação do governo brasileiro não foi excessivamente moderada, Amorim respondeu:

¿ Não há interesse em parecer belicoso nem extremamente moderado. Trata-se de um episódio raro.

Ele disse que o governo sabe que a população tem pela Petrobras quase o mesmo orgulho que tem pela seleção de futebol. E reagiu às declarações sobre o Acre, afirmando que esse caso ¿foi resolvido há cem anos pelo patrono da diplomacia brasileira¿, o Barão do Rio Branco. (SA e DB)