Título: Declarações de Morales contradizem acordo entre Brasil e Bolívia em La Paz
Autor: Eliane Oliveira, Monica Tavares e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 12/05/2006, Economia, p. 26

Na véspera, autoridades bolivianas reconheceram direito à indenização

LA PAZ e BRASÍLIA. As declarações do presidente da Bolívia, Evo Morales, de que os contratos da Petrobras são ilegais causaram perplexidade no governo do Brasil. O Itamaraty, o Ministério de Minas e Energia e a própria estatal comemoravam justamente o contrário. Em reunião anteontem à noite em La Paz, as autoridades bolivianas assinaram documento reconhecendo o direito de ¿compensação negociada¿ à Petrobras. Essa posição levou inclusive a petrolífera a anunciar que poderá desistir de entrar com uma ação na Justiça de Nova York.

A reunião, da qual participaram os ministros de Minas e Energia, Silas Rondeau, e de Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz Rada, e os presidentes da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e da boliviana YPFB, Jorge Alvarado, durou cinco horas. Os bolivianos resistiram até o último instante, pois não queriam se comprometer publicamente.

Para Helio Costa, Morales passou de todos os limites

Segundo fontes dos negociadores brasileiros, a sensação que ficou com as declarações de Morales é que ou ele está desautorizando seu ministro ou pretende insistir em um discurso nacionalista.

¿ Só podemos concluir que o Evo Morales está jogando para a platéia. De qualquer forma, esse tipo de procedimento é um problema dele e de seu ministro dos Hidrocarbonetos. Afinal, existe um documento assinado ¿ disse uma das fontes.

Em entrevista ontem num telejornal local, o presidente da YPFB, Jorge Alvarado, e o ministro da Presidência, Juan Ramon Quintana, mostraram-se bastante desconcertados com as declarações de Moraes.

¿ Se ele disse algo, é porque possui informações ¿ disse Alvarado.

Já Quintana foi mais conciliador. Segundo ele, Morales não quis acusar a Petrobras de ilegalidade, mas a forma como foram feitos os contratos:

¿ Os contratos são ilegais, porque não foram aprovados pelo Congresso ¿ afirmou.

Em entrevista ontem em Brasília, Rondeau ressaltou que quatro pontos de negociação foram acertados: o reconhecimento do contrato; o estudo de eventual pedido de revisão de preço do gás natural; a negociação de como será a transição nas duas refinarias; e a avaliação das cotas-partes das refinarias:

¿ Há uma diferença entre o que se negocia na mesa e o que se fala nos meios de comunicação.

Já o ministro de Relações Institucionais e coordenador político do governo, Tarso Genro, não acredita que a intenção da Bolívia seja romper relações com o Brasil. O ministro das Comunicações, Helio Costa, também comentou a elevação de tom de Morales em Viena:

¿ Morales ultrapassou todos os limites da compreensão, da boa convivência e chegou aos limites do respeito. Começa a ficar difícil encontrarmos o caminho de tratar o presidente Morales de forma amistosa e diplomática.

(*) Enviada especial