Título: DÓLAR SOBE MAIS DE 2%, PARA R$2,103
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 12/05/2006, Economia, p. 28

BC elevou ritmo de compra de moeda em maio, diz relatório. Risco-país sobe 5%

O dólar ultrapassou ontem o patamar dos R$2,10 e o risco-Brasil subiu mais de 5% em meio à forte piora no mercado internacional e à intensificação no ritmo de compra de dólares pelo Banco Central (BC) brasileiro. Levantamento feito pelo Unibanco mostra que, em maio, a autoridade monetária teria comprado duas vezes mais moeda do que a média diária de abril. Ontem, diante do maior apetite do BC ¿ que comprou dólares a R$2,09 ¿ a moeda americana encerrou os negócios na máxima do dia, cotada a R$2,103, em alta de 2,03%. Desde o dia 27 de abril a moeda americana não era negociada acima dos R$2,10.

O estudo, do economista do Unibanco Darwin Dib, mostra que, no mês passado, os leilões movimentaram cerca de US$137 milhões, ante US$300 milhões e US$348 milhões nos dois primeiros leilões de maio. Mesmo assim, a moeda continuou a recuar na última semana. Segundo ele, a forte mas gradual queda do dólar no mês pode fazer o BC intensificar ainda mais o ritmo de compra.

Para o economista, o BC pode passar a fazer mais de um leilão diário. ¿Mas a história recente já mostrou que o BC não consegue reverter a trajetória do câmbio com os leilões, mas apenas reduzir seu ritmo de queda¿, alertou, no relatório.

Ontem, o risco-país seguiu a trajetória negativa do dólar e disparou 5,16%, para 224 pontos centesimais. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 2,17%, aos 40.847 pontos.

O dia já começou negativo, com os investidores mais pessimistas em relação à possibilidade de uma nova alta dos juros básicos dos EUA, após o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) elevar a taxa pela 16ª vez consecutiva.

As contínuas altas nos preços das commodities, como ouro e petróleo, preocupam o mercado, pois podem significar pressão inflacionária nos Estados Unidos, o que pode levar a novas altas de juros. E, com taxas mais elevadas, aumentam também os ganhos dos títulos do Tesouro americano, classificados como aplicação de risco zero. Com isso, investidores tendem a reduzir as aplicações em ativos de mercados emergentes, como Brasil e México, considerados mais arriscados.

¿ O mercado, que na véspera tinha recebido bem a nova alta de juros nos Estados Unidos, passou a fazer as contas ontem e especulou que, se as cotações do ouro e do petróleo, por exemplo, continuarem numa escalada, é possível que haja inflação a curto prazo. E, como na semana que vem serão divulgadas as taxas de inflação no varejo e no atacado, criou-se um clima negativo no mercado ¿ explica Ronaldo Guimarães, sócio da Cenário Investimentos.

Diante da expectativa de novas altas de juros, a rentabilidade dos papéis americanos vem subindo. Ontem, os ganhos dos títulos de dez anos, os mais negociados e usados como referência de mercado, chegaram ao mais alto nível em quatro meses: 5,18% ao ano. Já o ouro para entrega à vista atingiu, no mercado internacional, a maior cotação em 26 anos: US$726 a onça-troy. E os preços do cobre bateram recorde, chegando a US$8.200 a tonelada.

Cotação do barril do petróleo sobe 1,7% nos EUA

Já os preços do petróleo mantiveram ontem o movimento de forte alta impulsionados pelos temores com relação à capacidade de produção das refinarias americanas às vésperas do início do verão no Hemisfério Norte, quando o consumo de combustível cresce de forma acentuada. O preço do barril do tipo leve americano subiu 1,7%, para US$73,32. Em Londres, o preço do petróleo do tipo Brent avançou 1,4%, para US$73,43 o barril.

Diante do cenário negativo, as bolsas americanas fecharam em forte queda, puxando para baixo a Bovespa. O índice Dow Jones recuou 1,22% e o S&P 500, 1,28%. Já a bolsa eletrônica Nasdaq caiu 2,07%.