Título: Nos EUA, relatório também indicou erros
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Fonte: O Globo, 12/05/2006, O Mundo, p. 32

Comissão de investigação americana apontou chances perdidas de detectar preparação para o 11 de Setembro

WASHINGTON. O relatório final da Comissão Nacional sobre os Ataques Terroristas contra os EUA ¿ que investigou os ataques de 11 de setembro de 2001 ¿ indicou uma série de oportunidades perdidas pelos governos de George W. Bush e Bill Clinton de detectar ou atrapalhar os seqüestros dos aviões, mas ¿ como no caso do relatório do Reino Unido, divulgado ontem ¿ não chegou a concluir que os atentados poderiam ter sido evitados.

De acordo com o relatório americano, divulgado em julho de 2004, as chances perdidas incluíam o erro da CIA de não adicionar os nomes de dois seqüestradores a uma lista de terroristas vigiados; o modo como o FBI lidou com a prisão, em agosto de 2001, de Zacarias Moussaoui, que pretendia participar dos atentados e recentemente foi condenado à prisão perpétua; e diversas tentativas frustradas de matar ou capturar o líder da al-Qaeda, Osama bin Laden.

O documento assinalou as dificuldades das agências de inteligência americanas para reunir elementos a fim de traçar um quadro claro da ameaça terrorista. Além disso, disse que a relação da al-Qaeda com o Irã e o Hezbollah ¿ grupo que teria financiamento do governo iraniano ¿ era muito mais forte e duradoura do que com o Iraque. A comissão não encontrou prova alguma de que o Iraque tenha colaborado com a al-Qaeda nos ataques, como indicava Bush em seus argumentos para derrubar Saddam Hussein.

A comissão afirmou ainda que o plano inicial da al-Qaeda era usar dez aviões seqüestrados em atentados nas costas leste e oeste dos EUA, atingindo, entre outros alvos, a Casa Branca, as sedes do FBI (polícia federal americana) e da CIA (Agência Central de Inteligência), usinas nucleares e os edifícios mais altos da Califórnia e do estado de Washington.

Numa das cenas descritas por investigadores, ocorrida em 6 de agosto de 2001, Bush passou os olhos sobre um informe que o então diretor da CIA, George Tenet, entregara-lhe minutos antes e, em tom hesitante, perguntou:

¿ É isso mesmo?

Tenet balançou a cabeça afirmativamente. O título do documento era ¿Bin Laden está determinado a atacar nos EUA¿. O texto afirmava que a al-Qaeda preparava ações terroristas em território americano desde 1997 e já tinha estrutura de apoio dentro do país. Ainda assim, Bush insistiu:

¿ Esse cara vai atacar aqui?

Integrada por cinco democratas e cinco republicanos, e presidida pelo republicano Thomas Kean, a comissão foi criada no fim de 2002 pelo Congresso americano para esclarecer as circunstâncias do 11 de Setembro e fazer recomendações para impedir novos atentados. Entrevistou mais de dez mil pessoas em dez países. Testemunharam funcionários públicos federais, estaduais e locais, bem como Bush, o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, e a então conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice.