Título: Sem gás, entra o plano B
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 13/05/2006, Economia, p. 35

Petrobras tem pronto um projeto de emergência caso cesse o fornecimento da Bolívia

APetrobras tem pronto, guardado a sete chaves, um plano detalhado de racionamento do gás natural, na hipótese de a Bolívia, em uma atitude extrema, cortar o fornecimento do produto ao Brasil. Metade do consumo do país vem da Bolívia. Os 25,2 milhões de metros cúbicos por dia consumidos pelas distribuidoras de gás natural nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (que vêm da Bolívia e dos campos brasileiros), por exemplo, teriam que ser cortado em 15 milhões de metros cúbicos diários. O corte pode chegar inclusive ao gás natural veicular (GNV).

No Rio, o abastecimento de gás natural seria menos afetado. O estado consome gás produzido na Bacia de Campos, mas poderia ser chamado a aumentar o fornecimento para São Paulo.

O plano de contingência leva em conta a hipótese de faltar gás natural nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que têm sua malha de gasodutos toda interligada. A idéia é cortar integralmente o fornecimento de gás natural para as refinarias da própria Petrobras e o produto fornecido às usinas termelétricas. Nestes dois casos não haveria grandes problemas, já que as 11 refinarias da estatal são bicombustíveis, ou seja, podem em pouco tempo passar a ser alimentadas com óleo.

No caso das usinas termelétricas, apesar de a maioria não ser bicombustível, elas poderão ser desligadas, porque sua energia tem como ser substituída pela das hidrelétricas, que estão com os reservatórios cheios.

Distribuidoras fixam volume por cliente

As usinas térmicas gastam 6,3 milhões de metros cúbicos por dia e as refinarias, outros 4,5 milhões. Já as distribuidoras estaduais recebem outros 25,2 milhões de metros cúbicos por dia, que são divididos entre as indústrias, uso veicular (o GNV), residências e estabelecimentos comerciais.

Pelo plano, na hipótese de faltarem os 26 milhões de metros cúbicos vindos da Bolívia, o corte do fornecimento às refinarias e usinas permitiria uma economia de 10,8 milhões de metros cúbicos por dia. E a Petrobras teria de cortar mais cerca de 15 milhões de metros cúbicos de fornecimento às distribuidoras estaduais de gás.

A Petrobras no caso da adoção de um plano de emergência, fixaria qual o volume de corte para cada distribuidora. Estas, por sua vez, é que têm competência legal para determinar os volumes de fornecimento de gás para cada classe de consumidores.

Segundo uma fonte do setor, o mais provável será as distribuidoras cortarem inicialmente o fornecimento do GNV, por haver combustíveis substitutos para os carros bicombustíveis, como gasolina e álcool.

Nas indústrias o corte teria que ser seletivo; atingindo primeiro as que têm fontes alternativas e podem usar óleo combustível, óleo diesel ou mesmo o GLP, o gás de botijão. Já para as indústrias de vidros e cerâmicas o gás natural é fundamental para a qualidade de seus produtos, e elas simplesmente teriam que parar na falta do produto.

Petrobras: plano é anterior à crise

O diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, minimiza a questão, afirmando que na realidade a estatal tem planos de contingência relativos a todas as suas atividades. E garante que o plano de emergência para o gás já existe antes mesmo do início do conflito com a Bolívia. A diretoria da Petrobras considera, contudo, muito remota a possibilidade de a Bolívia cortar o fornecimento dos cerca de 26 milhões de metros cúbicos diários. Uma suspensão no fornecimento de gás, que é produzido de forma associada ao petróleo, significaria um corte, também, do abastecimento de combustíveis líquidos na Bolívia, como gasolina, óleo diesel e óleos combustíveis.

A Petrobras está acelerando o projeto para entrada em produção já em 2008 do campo de gás de Mexilhão, na Bacia de Santos. Ontem a companhia abriu os envelopes com as propostas para a construção da plataforma. A melhor oferta foi do estaleiro Mauá-Jurong: segundo fontes, R$1,1 bilhão. A Petrobras vai agora negociar redução nos preços.

BRASIL JÁ PREVÊ MEDIDAS DE RETALIAÇÃO À BOLÍVIA EM CASO DE RADICALIZAÇÃO, na página 36