Título: Lula pede gestos dos ricos contra a pobreza
Autor: Soraya Aggege e Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 13/05/2006, Economia, p. 37

VIENA. Sem mencionar a crise com a Bolívia ou as declarações do presidente Evo Morales, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou seu discurso para fazer um apelo aos governantes e chefes de Estado que participavam da 4ª Cúpula da União Européia-América Latina e Caribe. Lula pediu que apressem o fim da atual rodada de negociações (Doha) na Organização Mundial do Comércio (OMC), afirmando que essa atitude é a melhor contribuição que os países ricos podem dar para a luta contra a pobreza.

¿ A rodada da OMC é a melhor chance que temos para reduzir ou eliminar subsídios, abrir mercados, aumentar a riqueza e gerar empregos ¿ discursou Lula.

O presidente destacou o imobilismo dos ricos na rodada de Doha e afirmou que não é mais possível aceitar pretextos:

¿ A principal responsabilidade recai sobre os países ricos. Não se podem mais aceitar pretextos para o imobilismo.

Segundo Lula, as dificuldades políticas de alguns países ricos são compreensíveis, ¿mas a fome e a pobreza não podem ser o preço a pagar¿. O presidente frisou que o Brasil tem hoje um ambiente econômico ¿propício ao crescimento¿ e que a inflação no país ¿está definitivamente controlada¿, mas que, para resolver o problema da fome e da pobreza é preciso que o comércio internacional contribua ¿para o desenvolvimento em vez de obstruí-lo¿.

¿ Somente com um comércio verdadeiramente livre de entraves e subsídios é que poderemos integrar milhões de seres humanos à economia mundial. Para isso, devemos corrigir os profundos desequilíbrios que hoje permeiam as trocas comerciais, penalizando os mais pobres ¿ afirmou.

Lula reafirmou a necessidade de atitudes políticas dos mais ricos em favor dos pobres:

¿ Os países ricos deverão fazer os maiores gestos. Os países em desenvolvimento darão passos significativos, segundo suas possibilidades. E os países mais pobres entre os pobres não terão custo algum. Ao contrário, receberão benefícios concretos e inversamente proporcionais a seu nível de riqueza. Estamos dispostos a fazer movimentos na área industrial e de serviços, desde que haja avanços realmente significativos na liberalização do comércio em agricultura.

Para Lula, o protecionismo agrícola dos ricos é uma das formas mais injustas de depressão das condições de vida do mundo em desenvolvimento.

De acordo com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, as negociações na OMC foram o tema dos encontros bilaterais que o presidente Lula manteve.

Lula tomou café da manhã com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e, depois encontrou-se com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair. Em seguida, conversou com o primeiro-ministro português, José Sócrates. Também se encontrou com o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Zapatero, e o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan. O encontro com a presidente do Chile, Michelle Bachelet, foi suspenso.

¿ As conversas sobre o tema da rodada de Doha, que trouxe o presidente Lula a Viena, foram muito positivas, na perspectiva de chegarmos a um acordo ¿ disse Amorim, segundo o qual o pronunciamento de Lula teve boa repercussão.