Título: Cúpula critica populismo de Chávez e Morales
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Fonte: O Globo, 13/05/2006, Economia, p. 38

Líderes mundiais reunidos em Viena alertam os dois governantes para os riscos de se adotar uma política fechada

VIENA. Preocupados com a escalada de tensão na América do Sul, líderes mundiais presentes à 4ª Cúpula da União Européia-América Latina e Caribe cobraram dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales, maior flexibilização em suas políticas para os setores energéticos, de investimentos estrangeiros e de comércio. O presidente da Comissão Européia (braço executivo do bloco europeu), José Manuel Barroso, afirmou, sem mencionar os dois países, que o populismo preocupa.

¿ Somos uma Europa contrária às tendências populistas ¿ disse Barroso.

Já o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, alertou os dois países a não agirem de forma irresponsável.

¿ O que as nações fazem com suas políticas energéticas, quando são países produtores como Bolívia e Venezuela, interessa enormemente a todos nós ¿ disse Blair. ¿ Meu único pedido é que exerçam o poder que lhes foi conferido nesse aspecto com responsabilidade para com a comunidade internacional.

O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, alertou, por sua vez, que os investidores precisam ter assegurada uma estabilidade de longo prazo:

¿ Sem esta garantia todas as atividades econômicas ficam sob risco de paralisação.

Protesto vira motivo de piada para Chávez

Chávez, no entanto, não se mostrou preocupado com essas observações. Em vez disso, fez piadas com jornalistas acerca da manifestante argentina que furou o bloqueio policial para protestar, seminua, contra a construção de fábricas de papel no Uruguai, outro ponto polêmico que vem indispondo vizinhos sul-americanos.

¿ Foi uma das melhores coisas que aconteceram nesta cúpula ¿ disse Chávez, enquanto a mulher era retirada pela polícia.

O anfitrião do encontro, o chanceler federal austríaco, Wolfgang Schüssel, disse a Brasil e Venezuela que os mercados abertos são a chave para promover o crescimento econômico e a prosperidade.

¿ Sempre há duas possibilidades na vida. Pode-se optar por abrir os mercados ou não. A escolha é de vocês ¿ disse Schüssel. ¿ Porém, a realidade é que as sociedades de mercado aberto têm um desempenho melhor do que as estruturas fechadas, restritas.

Já o primeiro-ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, cujo país é o quarto maior doador de ajuda à Bolívia, também manifestou sua preocupação com as políticas de Morales.

¿ Deixei claro que é preocupante a decisão do governo boliviano de mudar a forma de manejar seus recursos de gás natural ¿ disse Rasmussen.

Conflitos regionais esvaziam debate sobre comércio

Com o clima tenso na região e a indecisão manifestada por Morales sobre se participaria ou não da cúpula, as negociações comerciais previstas para o encontro foram canceladas. Ficou acertado, no entanto, que a Bolívia terá até 20 de julho para decidir se participará ou não das negociações comerciais entre a União Européia (UE) e a Comunidade Andina de Nações (CAN), que inclui ainda Peru, Colômbia e Equador. A UE terá hoje uma reunião com a CAN. A idéia é impulsionar os vínculos econômicos e políticos, apesar das divergências presentes.

Numa declaração final, assinada pelos 58 líderes ao fim das conversações conjuntas na Cúpula, os participantes se comprometeram a ¿promover e fortalecer¿ a estratégia entre as duas regiões.