Título: HAITI: PRESIDENTE TOMA POSSE EM CLIMA DE FESTA
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Fonte: O Globo, 13/05/2006, O Mundo, p. 45

Préval assume pela segunda vez o cargo de chefe de Estado do país amanhã, sob proteção de tropas comandadas pelo Brasil

PORTO PRÍNCIPE. O Haiti se prepara com festa para a posse do presidente eleito René Préval, amanhã, em Porto Príncipe. Ruas, calçadas e muros da capital haitiana estão pintados em apoio a Préval.

¿ Está como o Brasil fica em período de Copa do Mundo ¿ disse o coronel Fernando José Soares da Cunha Matos, chefe da comunicação social da brigada brasileira na força de paz das Nações Unidas no país.

Será a segunda vez que Préval assume o cargo de presidente. Em 1996 ele foi eleito, com apoio do então presidente Jean-Bertrand Aristide. Ele entregou o poder em 2001 para o próprio Aristide, tornando-se o único político da história do país a deixar o governo no fim de seu mandato constitucional ¿ além de ser o segundo a ter sido eleito e assumir o governo.

Rebelião derrubou presidente Aristide em 2004

Segundo o coronel Soares, são esperadas 40 mil pessoas no Campo de Marte, praça próxima ao Palácio do Governo e à Assembléia Nacional. Serão deslocados para o local 4.500 policiais e dois mil soldados da força de paz para garantir a segurança. A área será isolada das 17h de hoje até as 18h de amanhã.

Porém, apesar das medidas de segurança, a missão de paz da ONU não espera distúrbios entre gangues, como nas semanas que se seguiram às eleições de 7 de fevereiro. Um dos motivos para crer nisso é o mesmo que fez com que o período pós-eleitoral tenha sido tão turbulento. A capital haitiana é o maior reduto dos partidários de Préval, aliado histórico de Aristide, exilado na África do Sul desde 2004.

A convulsão social que acabou levando Préval ao poder começou em janeiro de 2004, quando rebeldes ¿ em grande parte ex-integrantes do Exército do Haiti, que fora dissolvido pelo presidente Aristide ¿ tomaram a quarta maior cidade do país, Gonaives, e provocaram distúrbios em todo o país. Em 22 de fevereiro, a segunda maior cidade haitiana, Cap-Haitien, foi tomada pelos rebeldes, o que, na prática, dividiu o país entre sul, nas mãos do governo, e norte, controlado pela rebelião.

Quando rebeldes avançavam para Porto Príncipe e temia-se um banho de sangue na capital, Aristide deixou o país, em 29 de fevereiro. Depois de denunciar ter sido retirado do país por militares americanos e franceses, ele fixou residência na África do Sul, em março de 2004.

No mês seguinte, o Conselho de Segurança da ONU criou a Missão de Estabilização no Haiti. O comando da missão foi dado ao Brasil. Desde então, a missão tem sido renovada. Em 7 de janeiro deste ano, o comandante das tropas da ONU, o general brasileiro Urano Teixeira Bacellar, suicidou-se num quarto de hotel no país por motivos não esclarecidos.

Presidente eleito defende permanência da ONU

Em fevereiro, foram realizadas as eleições, depois de vários adiamentos devido a focos de violência. Préval foi o candidato mais votado, mas enquanto a lenta apuração era realizada ficava claro que não conseguiria os 50% mais um dos votos necessários para ser eleito no primeiro turno. Após duas semanas, seus partidários saíram às ruas e temeu-se nova rebelião.

Com a anuência da maior parte ¿ mas não todos ¿ de seus adversários, uma proposta da ONU de alteração da lei eleitoral foi aceita e os votos brancos e nulos foram descartados para efeito de contagem, o que deu a Préval 51,15% dos votos.

O presidente eleito defendeu nos últimos dias a permanência da missão de paz da ONU:

¿ As forças da ONU vão permanecer no Haiti até nossa polícia resolver seus problemas de fragilidade e corrupção.

COLABOROU: Jailton de Carvalho