Título: MENSALEIROS JÁ ESTÃO NAS RUAS EM CAMPANHA
Autor: Isabel Braga e Maria Lima
Fonte: O Globo, 14/05/2006, O País, p. 3

Dos 19 acusados no escândalo do valerioduto, 13 pedem votos para disputar as eleições de outubro

BRASÍLIA. Um ano depois da primeira denúncia que acabou revelando ao país o escândalo do valerioduto, dos 19 deputados representados ao Conselho de Ética pela CPI dos Correios como beneficiários dos repasses ilegais 13 já estão em campanha para as eleições. O desgaste com as acusações minou projetos mais ambiciosos de alguns ¿ como o de candidatar-se a governos estaduais ou ao Senado. Mas, absolvidos das acusações por seus pares no Parlamento, preparam o terreno para a volta à Câmara e estão todos confiantes na reeleição.

Para ajudar no plano de reeleição, mesmo com a cabeça a prêmio na época, os dez absolvidos conseguiram aprovar emendas ao Orçamento deste ano e poderão mostrar às bases que trabalharam para garantir recursos para seus redutos políticos. Até o presidente do PP, Pedro Corrêa, cassado em março, e os dois deputados ainda não julgados pelo plenário ¿ Vadão Gomes (PP-SP) e José Janene (PP-PR) ¿ garantiram emendas num total de R$5 milhões cada. Ou seja, 13 mensaleiros têm R$65 milhões em emendas no Orçamento. Só os quatro que renunciaram e os dois cassados há mais tempo ¿ José Dirceu (PT-SP) e Roberto Jefferson (PTB-RJ) ¿ não puderam apresentar emendas.

O clima difícil e constrangedor de antes das votações vitoriosas em plenário começa a se dissipar. Há poucos dias, na Câmara, o deputado Professor Luizinho (PT-SP) foi cercado num corredor e abraçado efusivamente por um grupo de prefeitos. Ele foi o primeiro dos petistas que, mesmo após o Conselho de Ética ter aprovado o pedido de cassação, foram absolvidos pelo plenário da Câmara.

¿ Que delícia te dar um abraço ¿ disse o prefeito Angelo Peruggini, de Hortolândia.

¿ Agora sim está tudo bem, estou muito animado ¿ respondeu Luizinho, gargalhando.

O diálogo mostra que, apesar do desgaste com a crise, o tempo vem ajudando os acusados a se redimirem perante suas bases. Por enquanto, bases políticas. O objetivo é conseguir o perdão dos eleitores. Luizinho não tem dúvida: seu eleitorado vai entender que em todo esse processo houve muita violência e que ele, de fato, é inocente, e isso permitirá a reeleição:

¿ Lógico que eu acredito na minha reeleição.

Outro que circula com desenvoltura pela Câmara é o ex-presidente Severino Cavalcanti (PP-PE), que alardeia que voltará à Casa com mais de cem mil votos. Ele renunciou ao mandato para escapar do processo no Conselho de Ética por envolvimento num escândalo de propina na Casa. Há duas semanas Severino estava em Brasília e deputados e populares queriam cumprimentá-lo e tirar fotos.

¿ Está vendo? É assim em todo lugar. Voltarei com a maior tranqüilidade. E vou eleger o Dudu ¿ disse, referindo-se ao apadrinhado Eduardo Gonçalves, seu secretário particular.

Entre os que tinham ambições maiores, esmagadas pela denúncia, estão o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), o ex-líder do PL Sandro Mabel (GO), o ex-líder do PT Paulo Rocha e o ex-líder do PP deputado Pedro Henry (MT). João Paulo sonhava com o governo de São Paulo; Rocha com o do Pará; Mabel com o de Goiás; e Henry em disputar uma vaga no Senado pelo Paraná.

O ex-líder Paulo Rocha, o único petista a renunciar para escapar do processo no Conselho de Ética, tem dito a amigos que confia em sua eleição para a Câmara. O deputado petista Josias Gomes (BA), absolvido semana passada, diz que seus eleitores conseguem distinguir seu caso de outros mais graves.

Mesmo o ex-presidente do PP Pedro Corrêa, um dos três cassados e impedido de se candidatar, trabalha para eleger dois filhos: Fábio Corrêa por Pernambuco, e Aline Corrêa, em São Paulo.

Também cassados, os ex-deputados Roberto Jefferson e José Dirceu não podem voltar tão cedo. Mas esperam ser representados na Câmara. Jefferson vai tentar eleger a filha Cristiane Brasil. E Dirceu está em campo para tentar reeleger aliados como Ângela Guadagnin (PT-SP), queimada pela dança da pizza.

Mesmo renunciando para tentar novo mandato, o ex-bispo da Igreja Universal Carlos Rodrigues foi preso no escândalo da máfia das ambulâncias.

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