Título: DO QUE VIVE DELÚBIO AINDA É UM MISTÉRIO
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 14/05/2006, O País, p. 4

Custos com advogados já chegariam a R$1 milhão, mas PT diz que não está pagando

SÃO PAULO. Um ano depois do início da crise política, o ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares deixou de desfilar com gravatas italianas e carros blindados, escoltado por seguranças. Vive num apartamento do Centro de São Paulo, que teria sido emprestado pelos pais da mulher, Mônica Valente, também ex-dirigente do partido.

Delúbio mudou-se dos Jardins para o bairro da Consolação, no Centro de São Paulo. Com seu carro de vidros pretos, entra e sai pela garagem sem que os vizinhos o vejam. No prédio os apartamentos custam de R$200 mil a R$300 mil. O GLOBO procurou Delúbio, mas o porteiro tem ordens claras:

¿ O senhor Delúbio não quer ser incomodado.

Delúbio tem dito a amigos que fez um grande sacrifício pelo partido. Não admite que errou e sonha voltar para a política, pelas mãos do próprio PT.

Para dirigentes petistas, o sonho de Delúbio é infantil. O nome dele virou sinônimo de tragédia e tabu no PT. Ninguém explica como o ex-tesoureiro pode ainda remunerar seus advogados, cujos custos chegariam à casa de R$1 milhão.

¿ O PT não está pagando os advogados. Ele deve dar os seus ¿pulos¿ ¿ explica o secretário nacional de Comunicação, Francisco Campos.

Mas a renda de Delúbio continua um mistério. A mulher, Mônica Valente, está lotada na primeira-secretaria da Assembléia Legislativa comandada pelo deputado Fausto Figueira (PT). Ela ganharia R$3 mil.

No ano passado, na comemoração de seus 50 anos, Delúbio fez uma festa e disse que o mensalão viraria piada de salão. Mas, nas últimas semanas, quando O GLOBO tentou entrevistar correligionários e amigos de Delúbio, as conversas estancavam diante da menção ao nome do ex-tesoureiro. A deputada Neide Aparecida (PT-GO), sócia de Delúbio numa ação por improbidade na Justiça de Goiás, levou um susto:

¿ Não tenho nada para dizer sobre isso.

O medo de se ver associado ao ex-tesoureiro bateu até as portas do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás, o Sintego, de onde Delúbio alçou vôo para a CUT e depois para a cúpula do PT. Há duas semanas, a imagem de um sorridente Delúbio Soares foi apagada da foto oficial da posse da nova diretoria. O presidente do Sintego, Domingos Pereira da Silva, desconversou:

¿ Tenho que ver isso. Não sei responder. Qual a importância disso?

O ex-tesoureiro responde a dois processos, um cível e outro penal, na Justiça de Goiânia, por ter recebido por anos salário de professor estadual sem trabalhar. O promotor Fernando Krebes pede que Delúbio devolva R$160 mil aos cofres públicos por abandono de emprego. Mas a acusação mais pesada está no Supremo Tribunal Federal, onde é um da lista de 40 pessoas do grupo que o procurador-geral, Antônio Fernando de Souza, chamou de organização criminosa.