Título: MST, DIVIDIDO, COGITA NÃO APOIAR REELEIÇÃO DE LULA
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 14/05/2006, O País, p. 9

UNE e pastorais católicas também se dividem sobre apoio a Heloisa Helena e até defesa do voto nulo

SÃO PAULO. A política econômica, as alianças com partidos de centro e direita e as denúncias de corrupção minaram a relação entre o PT, movimentos sociais e setores da Igreja, pilares da fundação do partido. Diferentemente de 2002, quando apoiaram a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, movimentos como o MST, a UNE e pastorais católicas estão divididos para as eleições deste ano. O MST tem feito consultas à base e deve tomar uma decisão até o fim do mês. Nas consultas, identificou quatro vertentes: apoio à reeleição de Lula; adesão à candidatura da senadora Heloisa Helena (PSOL); independência em relação às candidaturas e, com menor peso, defesa do voto nulo.

Segundo Gilmar Mauro, da coordenação do MST, tudo reflete as políticas do governo Lula:

¿ Será uma eleição episódica, menos politizada. É uma situação complexa. Isso não acontece só no MST, mas em vários agrupamentos da sociedade. Tem gente de esquerda que defende apoio a Heloisa Helena. Outros, a Lula. Um terceiro grupo quer que o movimento não apóie ninguém. Isso acontece por causa das contradições do mandato de Lula.

O MST deve optar pela neutralidade no primeiro turno.

¿ Pode haver apoios pessoais, mas as estruturas do movimento não serão usadas no processo eleitoral ¿ afirmou Gilmar Mauro.

O apoio a Heloisa Helena é mais forte em São Paulo por causa da candidatura de Plínio de Arruda Sampaio, aliado do movimento, ao governo do estado pelo PSOL.

No movimento estudantil também não há unanimidade. Entidades ligadas ao PSTU deixaram a UNE (União Nacional dos Estudantes), dominada há anos por PCdoB e PT, e criaram a Conlute. O PSOL conquistou postos de direção em diretórios estudantis importantes, como os da USP, da UFRJ, da Unicamp e da UNB. No último Congresso Nacional das Entidades de Base da UNE, foi aprovada a realização de um plebiscito para escolher qual candidato a entidade apoiará. Mas diante da diversidade de posições, a direção praticamente abandonou a idéia.

As divisões se manifestam na Igreja. Embora defenda a reeleição de Lula, o bispo de Jales (SP), dom Demétrio Valentini, da Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB, descartou o voto nulo mas disse que a opção por Heloisa Helena serve de lição ao PT.

Já o bispo emérito de Goiás, dom Tomás Balduíno, ex-presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), diz que o voto nulo pode ser um instrumento do eleitor para manifestar indignação com os escândalos do governo.

COLABOROU: Adauri Antunes Barbosa