Título: ATAQUES A POLICIAIS PROVOCAM 21 MORTES EM SP
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Fonte: O Globo, 14/05/2006, O País, p. 11

Entre os mortos estão 14 agentes. Facção criminosa reagiu à transferência de chefes presos para a capital

SÃO PAULO. Uma onda de ataques a delegacias e postos da Polícia Militar em São Paulo, entre a noite de sexta-feira e a madrugada de ontem, deixou um total de 21 mortos e 15 feridos. Entre os mortos estão 14 policiais, seis bandidos e a namorada de um policial. Os ataques em série foram cometidos por uma facção criminosa, em represália à transferência de chefes da quadrilha de presídios do interior para a capital. Havia também duas rebeliões em andamento em presídios. A polícia descobriu um plano para uma série de rebeliões e seqüestros no interior do estado.

Os ataques começaram por volta das 20h de sexta-feira e atingiram delegacias, postos policiais, carros de polícia e até uma unidade do Corpo de Bombeiros. Três cidadãos foram atingidos por balas perdidas durante os confrontos. Pelo menos 20 pontos diferentes na capital, nas cidades do litoral e no interior de São Paulo foram atacados pela quadrilha. Segundo a polícia, houve ações em Mogi Mirim, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Osasco, Cubatão e Guarujá. Quinze bandidos foram presos.

Secretário afirma que polícia está trabalhando

Em entrevista coletiva no Comando Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, o secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, declarou que os ataques são uma reação dos bandidos ao trabalho da polícia.

¿ Quando batemos de frente contra o crime é isso mesmo o que acontece. A situação só ficaria acomodada se nós não enfrentássemos de frente os bandidos e compactuássemos com eles. Inclusive, todos os chefes estão presos. O objetivo desses bandidos é movimentar a mídia e tentar passar uma sensação de insegurança. Este número de policiais mortos não é definitivo, pode mudar.

Pouco antes dos ataques, 16 chefes da facção criminosa foram transferidos de presídios do interior para a sede do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), na capital paulista. Entre os detentos transferidos está o chefe da quadrilha, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que há três anos foi apontado como o responsável pela maior onda de rebeliões em presídios paulistas ocorrida até hoje.

Os bandidos foram levados ao Deic para prestar depoimentos sobre atentados e tentativas de resgate anteriores. Houve também uma grande transferência, de 600 presidiários, para a recém-reformada unidade P-2 de Presidente Venceslau, a 620 quilômetros da capital. O objetivo seria isolar esses chefes dos demais presos. Mas a Secretaria de Segurança definiu a reocupação da prisão de Presidente Venceslau como de ordem administrativa e atribuiu a uma casualidade o fato de a reforma ter acabado dias atrás.

Rebelados fazem 24 reféns em Avaré I e Iaras

Nas rebeliões nas penitenciárias de Avaré 1 e Iaras, os bandidos tomaram 24 reféns, sendo 12 em cada presídio. A maioria dos presos nas duas unidades pertence à quadrilha responsável pela onda de ataques a postos policiais. O secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, disse que as rebeliões estão sendo comandadas por presos subordinados aos chefes da facção criminosa, assim como os ataques a postos policiais:

¿ Como disse o secretário de Segurança Pública, existem muitos ¿nóias¿, pessoas que devem para essas que estão presas e recebem ordem por aí para atirar tresloucadamente. Isso vai parar, tem de parar.

No início da madrugada de ontem, toda a cúpula da polícia se reuniu no quartel da Polícia Militar, na região da Luz, em São Paulo, para avaliar a onda de ataques. Participaram da reunião o secretário Saulo de Castro Abreu Filho; o delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antônio Desgualdo; o diretor do Deic, Godofredo Bittencourt; o comandante do Policiamento Metropolitano, Eliésio Rodrigues, e o comandante-geral da PM, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges.

No início dos ataques, Marcola foi levado à sala do diretor do Deic, mas o teor da conversa não foi divulgado. Por meio da assessoria de imprensa, Bittencourt admitiu que Marcola conversou informalmente com policiais do Deic, mas negou que ele tenha prestado depoimento formal. Nos presídios rebelados, não há informação sobre feridos.

Os ataques foram em postos de Itaim Bibi; na região da 85ª DP (Jardim Mirna); em Guaianazes (Zona Leste); em Jandira, na Grande São Paulo, e em várias cidades, como Barueri, Cotia e Itapevi; Osasco (Grande São Paulo); no bairro do Sapopemba; e em Guarujá, na Baixada Santista.