Título: Metade dos empregados tem mais de 40 anos e 17% são cinqüentões
Autor: Luciana Rodrigues, Mariza Louven e Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 14/05/2006, Economia, p. 34

Segmento responde por um quinto do emprego formal em Angra dos Reis

O encanador Arlindo de Oliveira ficou seis anos fazendo biscates de pedreiro e bombeiro até voltar à área em que sempre atuou, o setor naval. Desde 2001, trabalha com carteira assinada no estaleiro Aker Promar, em Niterói, onde ganha R$1.300, tem plano de saúde e outros benefícios. De quebra, a empresa contratou seu filho, Marcos Vinícius, de 18 anos, como praticante de encanador, com salário de R$800. Arlindo e Marcos Vinícius são as duas faces de um setor que, hoje, emprega veteranos de sua era de ouro e se esforça para qualificar jovens profissionais.

Levantamento da Fundação Cide mostra que 49% dos trabalhadores da indústria naval têm mais de 40 anos e 17% passaram dos 50. Os estaleiros já respondem por 4% dos empregos formais na indústria de transformação do estado. Em Angra dos Reis, um quinto das vagas com carteira assinada, entre toda a população ocupada, está no setor.

A Fundação Cide estima que, em 2010, o setor terá peso de 6% no emprego da indústria de transformação fluminense. Ranulfo Vidigal, diretor-executivo da fundação, destaca que os salários da área costumam ser maiores que a média: 80% dos empregados ganham de três a 15 salários-mínimos, contra 35% no total da indústria.

Para o contramestre Carlos Augusto Jacinto, os 1.200 empregos garantidos pelo Aker Promar significam mais renda para a comunidade onde vive.

¿ Estou no Promar desde que foi criado. Acho ótimo vir para o trabalho andando ¿ disse Jacinto, nascido e criado na Ilha da Conceição.

Problemas com terceirizada levam a protestos em estaleiro

Pelos cálculos do coordenador do setor naval da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Edson Carlos Rocha da Silva, os estaleiros empregam cerca de 26 mil pessoas no estado. O contingente chegou perto dos 30 mil este ano, antes da entrega da P-50, a plataforma da auto-suficiência, há dois meses.

¿ Cerca de cinco mil pessoas foram demitidas, principalmente no estaleiro Mauá-Jurong.

O sindicalista acredita que boa parte das vagas perdidas serão preenchidas quando a base flutuante da plataforma P-54 chegar de Cingapura, em dois meses, para ser montada. Enquanto isso, o estaleiro Mauá está fervilhando. Nas duas últimas semanas, metalúrgicos fizeram protestos contra as dispensas e trabalhadores terceirizados reclamaram de atrasos nos salários. O estaleiro se comprometeu a pagar diretamente os prejudicados pela firma terceirizada.

¿ O uso de pessoal terceirizado é comum nas horas de aquecimento da indústria ¿ afirma José Roberto Simas, diretor comercial da empresa.

Empresários e trabalhadores reclamam dos preços altos dos cursos de qualificação.

¿ Fica caro para a garotada, e a maior parte dos profissionais é da velha guarda. Se aumentarem as encomendas, vai faltar mão-de-obra ¿ queixa-se Antonio de Santana, diretor-presidente do estaleiro Cassinú.

¿ Gastei quase R$4 mil em quatro cursos diferentes ¿ faz coro o soldador Roberto Nunes, que trabalha na Almar, fornecedora de peças para o setor.

O gerente de Educação Profissional do Sistema Firjan, Luís Arruda, explica que os cursos da área metalúrgica têm custo elevado. O preço varia de R$600 a mil reais. Mas, este ano, em parceria com o governo federal, o Senai vai oferecer cerca de duas mil vagas em cursos gratuitos para o setor.