Título: INDICADORES SOCIAIS DO PAÍS NÃO MELHORAM
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 14/05/2006, Economia, p. 35

Mais venezuelanos vivem abaixo da linha da pobreza

BUENOS AIRES. Nos pouco mais de sete anos do governo Hugo Chávez, a dívida pública da Venezuela disparou, o Estado aumentou sua presença na economia, mas os indicadores sociais continuam dramáticos. Dados do livro ¿Venezuela endividada, de Carlos Andrés Pérez a Hugo Chávez¿, do economista José Guerra mostram que em 1998 a Venezuela destinava 6,1% de seu PIB ao pagamento de serviços da dívida, 3,2% à educação e 1,3% à saúde. Em 2004, os serviços da dívida representaram 9,1% do PIB, a educação 5,1% e a saúde apenas 1,6%.

A partir de 2004, quando Chávez venceu o referendo sobre sua continuidade no poder, o governo iniciou as missões bolivarianas, levando saúde, educação e alimentos mais baratos a milhões de pessoas. Porém, de 2003 a 2004 a taxa de pobreza quase não variou. Quando Chávez assumiu, 42,8% dos venezuelanos viviam abaixo da linha da pobreza. Hoje, são 53,1%.

¿ Além do previsto no Orçamento, a Venezuela de Chávez tem um gasto extra-orçamentário estimado em US$5 bilhões em 2005. São usados, por exemplo, para financiar missões bolivarianas ¿ disse Guerra, acrescentando que as missões não reduziram a pobreza, nem criaram empregos de qualidade e muito menos geraram crescimento sustentável. ¿ Os três milhões de venezuelanos que trabalham nas missões ganham US$90 por mês e o valor da cesta básica é de US$200.

O economista ressalta ainda o aumento da dívida do Banco Central (a instituição emite bônus comprados pelos bancos, para reduzir a liquidez e evitar a inflação), hoje estimada em US$16 bilhões. Em 1999, a dívida do BC era de só US$1,2 bilhão.

O Estado venezuelano produz alumínio, petróleo, ferro, têxteis, alimentos e até chocolate. Dos oito canais de TV nacionais, quatro são estatais (Telesur, Venezolana de Televisión, Vive TV e canal da Assembléia Legislativa). Há cerca de 150 jornais estatais. Um dos projetos recentes é a participação do Estado em telecomunicações, com a empresa CVG Telecom, que vai operar telefonia fixa e móvil.

¿ Isso é uma carga para o Estado, enquanto despencam as pontes. Esse gasto não traz crescimento sustentável. Chávez gasta dinheiro sem parar, não tem limite ¿ disse Guerra.

O dinheiro injetado pelo governo chavista em outros países como Cuba e Bolívia, que nacionalizou os negócios da Petrobras, é uma incógnita, embora meios de comunicação locais tenham afirmado que, em sete anos, Chávez investiu quase US$20 bilhões em outros países. Já o número de empresas privadas caiu de 17 mil para 7 mil, entre 1998 e 2005, disse Guerra.

¿ As importações estão acabando com as empresas privadas. (Janaína Figueiredo)