Título: Lula sobre Evo: `Muita fumaça e pouco fogo¿
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 14/05/2006, Economia, p. 36

Presidente brasileiro diz que líderes não devem culpar o mundo pela pobreza na AL e considera crise com Bolívia encerrada

VIENA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou ontem sua participação na 4ª Cúpula da União Européia com a América Latina e Caribe, em Viena, colocando um ponto final no bate-boca com a Bolívia, por causa da crise do gás. Lula mandou uma mensagem clara ao presidente Evo Morales, sem citá-lo.

¿ Acho que temos que ter clareza de que é preciso parar, na América Latina, de um presidente ficar culpando o mundo pela pobreza de seu país. É preciso saber que o que nós deixamos de fazer em algum momento da nossa história e acho que se a gente pensar no século XXI a gente pode dar um salto de qualidade. Se a gente ficar remoendo o passado, na verdade nós não andaremos ¿ disse Lula a jornalistas, ao sair de um café da manhã com Morales, que durou duas horas.

Para Lula, a crise com a Bolívia criada pelos ataques de Morales a Petrobras, que ele acusou de manter atividades ¿ilegais¿, está encerrada:

¿ Tinha muita fumaça e pouco fogo. Tanto o presidente Morales quanto o presidente do Brasil compreendem a necessidade de que a única chance que temos de nos desenvolver é ter paz na América Latina, é ter paz na América do Sul. Eu disse ao presidente Morales que o Brasil precisa do gás da Bolívia e a Bolívia precisa do Brasil. Portanto, é preciso encontrar o ponto de equilíbrio justo para que o Brasil fique satisfeito e a Bolívia fique satisfeita.

O tom de Morales também foi conciliador. Chamou Lula de ¿companheiro¿, prometeu uma visita e, sobre os preços do gás e seus planos de nacionalização, garantiu ¿racionalidade¿:

¿ Quem não quer melhorar sua situação econômica? Porém, os preços precisam ser tomados em conta racionalmente. Nossa intenção é aumentar o volume de exportações, de modo que beneficie Brasil e Bolívia, de maneira negociada.