Título: REBELIÕES ATINGEM MATO GROSSO DO SUL E PARANÁ
Autor:
Fonte: O Globo, 15/05/2006, O País, p. 3

Facção criminosa paulista teria orientado presos dos outros dois estados a também deflagrar o movimento

CAMPO GRANDE. Presos ligados à principal facção criminosa que domina os presídios paulistas assumiram ontem o controle de presídios de Mato Grosso do Sul (Campo Grande, Dourados, Corumbá, Ponta Porã e Três Lagoas). No Paraná também estouraram rebeliões nas cadeias públicas das cidades de Foz do Iguaçu, Cascavel, Toledo, Assis Chateaubriand e Umuarama. A situação mais tensa era na cadeia pública Laudemir Levis, em Foz do Iguaçu, onde cerca de 500 presos se rebelaram no início da manhã de ontem, mantendo três presos como reféns. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná, no entanto, negou a informação, afirmando que seria apenas um refém.

No Mato Grosso, a situação de Campo Grande era a mais crítica. Segundo a assessoria do governo do estado, os detentos assumiram o comando de três dos quatro pavilhões do Presídio de Segurança Máxima, onde três agentes penitenciários foram mantidos reféns. Segundo parentes dos presos e a equipe do Corpo de Bombeiros que atende a ocorrência no complexo penitenciário de Campo Grande (formado pelos presídios de Trânsito, Instituto Penal e de Segurança Máxima), há informações de que dois presos e um agente penitenciário foram mortos.

Polícias Civil e Militar em alerta geral

O relações-públicas do Comando Geral da Polícia Militar, major Arquimedes Gonzaga, disse que até o final da tarde não havia informações confirmadas de mortos. Mas ele confirmou que os presos controlam os pavilhões 1, 2 e 3 do presídio de segurança máxima de Campo Grande. Numa das caixas d'água, os rebelados colocaram a bandeira do grupo ao qual pertencem e deixaram um preso amarrado, todo ensangüentado. Agentes penitenciários do Instituto Penal, que fica ao lado do presídio, disseram que um agente teve as costelas quebradas e um outro foi esfaqueado. Mas a polícia não viu nenhum corpo e colocou policiais da Companhia Independente de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais (CIGCOE) para negociar com os presos.

Segundo informações de policiais mobilizados para conter a rebelião no complexo penitenciário de Campo Grande, os presos disseram que foram orientados pela direção do grupo de São Paulo a engrossar as rebeliões e os ataques às unidades militares, iniciados sexta-feira por causa da transferências de chefes da facção para outros presídios.

¿ A malandragem já foi avisada de que se tentar algum ataque vai ser recebido pelos policiais de prontidão ¿ disse um policial, que pediu para não ter o nome divulgado.

Desde o início da noite de sábado as polícias Civil e Militar ficaram em alerta geral. Segundo o relações-públicas da Polícia Civil, Fernando Paciello, até o início da noite de ontem não havia sido registrado nenhum ataque a unidades, viaturas ou policiais civis em todo o Estado.

A rebelião em Foz do Iguaçu também foi motivada pelo motim de São Paulo, após os presos ouvirem a notícia da morte de cinco detentos em confronto com a polícia paulista. Mesmo negando seguir ordem da facção criminosa dentro dos presídios, os presos de Foz do Iguaçu exibiram uma faixa com as siglas da organização criminosa paulista responsável pelos atuais conflitos nas penitenciárias.

Rebelados exigem fim da superlotação

Os rebelados exigem que o secretário de Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, entre em acordo com o secretário paulista para que ponham fim à superlotação nas penitenciárias dos dois Estados. A cadeia de Foz, que abriga 819 detentos, tem capacidade para apenas 350.

Enquanto a negociação não chegava a um fim, os presos queimaram colchões e houve muitos gritos das mulheres presas, que estariam correndo risco de serem violentadas e sofrerem agressões físicas. Até ontem à noite não havia vítimas, mas as polícias Civil, Militar e Federal, num esforço conjunto de cem homens, estudavam maneiras de invadir a penitenciária e libertar os reféns. A situação mais tensa ocorreu por volta das 15h, quando os presos penduraram de cabeça para baixo três presos feitos reféns.

(*) Especial para O Globo