Título: CLIMA DE PÂNICO SE ESPALHA EM SÃO PAULO
Autor:
Fonte: O Globo, 15/05/2006, O País, p. 3

Policiais civis e militares portam coletes à prova de bala e mantêm armas em punho

SÃO PAULO. A polícia de São Paulo passou o sábado e o domingo refém do crime organizado. Por todo o estado, homens das polícias Civil e Militar não escondiam a intranqüilidade com a hipótese de novos ataques, a qualquer momento, promovidos por uma das principais facções criminosas do país. A maioria usava coletes à prova de bala e estava de armas em punho, principalmente os de plantão em guaritas e postos em praças e ruas. Nas delegacias, escrivães, investigadores e até delegados resolveram dar plantão em salas mais distantes da porta principal.

Para reforçar a segurança, folgas e férias de policiais foram canceladas. Além disso, armamento especial foi liberado pelo governo para a Polícia Civil e os batalhões militares. Diante do terror provocado pelos ataques, as rondas em bairros de periferia diminuíram ao longo do dia.

Na capital, postos, delegacias e prédios do Poder Judiciário foram cercados com faixas de trânsito e cones, na tentativa de evitar que carros se aproximassem. A cada veículo que passava em rota suspeita, os policiais apontavam as armas. Em frente ao Departamento de Investigação Contra o Crime (Deic), policiais usando armas de grosso calibre paravam carros e revistavam pessoas. O medo era tamanho que repórteres do GLOBO foram atendidos por um plantonista do Deic com dois revólveres nas mãos.

O mesmo ocorreu na sede da Secretaria de Segurança Pública, onde duas viaturas da PM faziam a segurança. Até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, teve a segurança reforçada e permaneceu cercado no fim de semana. A morte de um soldado do Corpo de Bombeiros levou a corporação a adotar em emergência medidas de segurança. Uma pista da Rua da Consolação, uma das mais movimentadas de São Paulo, foi interditada por viaturas de resgate, que permaneceram enfileiradas durante todo o dia.

Na Rodovia dos Imigrantes, policiais distribuem flores

Donos de bares normalmente freqüentados por policiais estavam aflitos. Num deles, no centro da cidade, clientes chegaram a ir embora com a chegada de uma viatura da PM. Os policiais eram vistos como possíveis alvos das facções criminosas. Um policial, que pediu para não ter o nome nem o local onde trabalhava revelados, responsabilizou o governo pela violência.

¿ Além de um salário miserável, não temos infra-estrutura nem trabalho de inteligência para acabar com a bandidagem. Estamos, sim, reféns ¿ afirmou ele, pai de uma menina de dois anos. ¿ O pior é que a minha mulher também é policial.

Na Rodovia dos Imigrantes, região do ABC, um posto rodoviário da polícia tentou aplacar a tensão. Armados e sem esconder a apreensão, os plantonistas distribuíram flores em homenagem ao Dia das Mães.