Título: SÃO PAULO CONTA 72 MORTOS E HÁ PRESOS REBELADOS EM 3 ESTADOS
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Fonte: O Globo, 15/05/2006, O País, p. 3

Criminosos atacam Fórum e duas agências bancárias na capital e incendeiam 19 ônibus

SÃO PAULO

Oclima de guerra civil aumentou ao longo do fim de semana em São Paulo e ontem à noite já eram contados 72 mortos em 115 ataques a postos policiais e 69 rebeliões em presídios. O terror rapidamente começou a se espalhar para os estados vizinhos: os detentos de cinco presídios do Mato Grosso do Sul e de cinco presídios do Paraná também iniciaram violentos motins, declarando serem atos de solidariedade aos bandidos da facção criminosa paulista responsável pela onda de violência. Ao todo, ainda havia ontem à noite 230 reféns em presídios, mesmo depois de 85 pessoas terem sido liberadas.

Além de postos policiais, na madrugada de ontem foram atacados a tiros e bombas o prédio de um Fórum em São Paulo e de duas agências bancárias. Dezenove ônibus urbanos e uma agência bancária foram incendiados pelos criminosos em São Paulo e em cidades próximas ou da região metropolitana.

Entre os mortos há 20 policiais militares, cinco policiais civis, três guardas civis metropolitanos, oito agentes penitenciários, 11 presos (oito em São Sebastião e três em Ribeirão Preto), além de dois cidadãos e 23 criminosos. Os feridos somavam 39, entre os quais 22 agentes policiais e 11 cidadãos comuns.

¿ A polícia está sem o controle da situação. Estamos agora com medo dos bandidos. A situação se inverteu ¿ disse a presidente da Associação dos Funcionários da Polícia Civil do Estado de São Paulo, Lucy Lima Santos.

Sentimentos de revolta e angústia tomaram conta de centenas de familiares de detentos, que foram aos presídios para as visitas do Dia das Mães mas não puderam entrar por causa das rebeliões.

Menores infratores também se amotinaram na Febem (Fundação do Bem-Estar do Menor) de Vila Maria, na Zona Norte. Em meio ao caos, as principais autoridades da área de segurança pública paulista mantiveram-se em silêncio. O secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, e o secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, negaram-se a falar sobre os acontecimentos.

¿ O que se vê com esse episódio é um estado mentiroso, que negocia com criminosos, faz transferências equivocadas e quando é atacado pelo crime organizado diz tratar-se de reação ao seu rigor ¿ afirmou ontem o presidente do Instituto Giovanni Falconi de Ciências Criminais, Walter Maierovitch.

O governador paulista, Cláudio Lembo (PFL), rejeitou a ajuda da Polícia Federal e disse que advogados podem ser mensageiros dos criminosos, entregando aos presos celulares e outros objetos proibidos. Ele defendeu a gravação das conversas entre detentos ligados ao crime organizado e seus advogados, medida rechaçada pelo presidente da seção paulista da OAB, Luiz Flávio Borges D¿Urso.

¿ Isto não pode, desrespeita o estado de direito. Isto é ilegal ¿ disse D¿Urso.