Título: INOPERÂNCIA E OMISSÃO
Autor: ALESSANDRO MOLON
Fonte: O Globo, 15/05/2006, Opinião, p. 7

Diante da ousadia do tráfico de drogas, que não pára de nos surpreender, fica a inevitável pergunta: será que o governo Rosinha tem uma política de segurança pública? É impressionante como temos sido surpreendidos com notícias de ações espetaculosas de traficantes. Às ordens de fechamento de comércio ou de queima de ônibus vão se sucedendo os tiros disparados por traficantes em direção à 9ª DP, no Catete, a invasão do Quartel do Exército em São Cristóvão e, como se não bastasse, o bloqueio da mais importante avenida suburbana para a passagem de um comboio do tráfico. Estes fatos, ao contrário do que as autoridades estaduais querem nos fazer crer, não são inevitáveis. São fruto da inexistência de uma política de segurança dos governos que levam a marca Garotinho. Nestes anos, o Rio tem ostentado vergonhosas estatísticas que deixam claro que vivemos um estado de insegurança que ameaça a todos e é ignorado dia a dia pelas autoridades.

Nossos jovens são as maiores vítimas destes governantes incapazes de promover a segurança e a inclusão social. O Mapa da Violência IV, da Unesco, mostrou que o Rio é o estado onde mais morreram jovens de forma violenta entre 1993 e 2002: são 119 assassinatos para cada 100 mil habitantes entre 15 e 24 anos, contra a média nacional de 52. A situação também não é boa para adultos e crianças. O Rio continua a ser o campeão com o registro, neste período, de 57 homicídios por cada 100 mil habitantes, quando a média nacional ficou em 22.

Propostas de políticas públicas para reverter este estado de coisas é que não faltam. Mas elas estão passando ao largo da Assembléia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), que se tem negado a cumprir seu papel de fiscalizar e discutir as ações do Poder Executivo.

A Alerj ainda não entendeu que é sua obrigação colaborar na busca de soluções para a segurança da população. A maioria governista tem tratado os debates sobre o tema como provocação ao governo Rosinha e, por isso, rejeitado a convocação de autoridades da área para prestar esclarecimentos. Não podemos permitir que o governismo irresponsável faça a Alerj igualar-se ao Executivo pela inoperância e omissão.

ALESSANDRO MOLON é deputado estadual (PT).