Título: ANTES DOS ATAQUES, 12 MIL PRESOS FORAM SOLTOS EM SP
Autor: Germano Oliveira
Fonte: O Globo, 15/05/2006, O País, p. 11

Associação dos Oficiais da PM afirma que transferência de chefes de facção criminosa no período de indulto foi erro

SÃO PAULO. As autoridades responsáveis pela segurança de São Paulo cometeram uma série de erros estratégicos que deram início à maior revolta de presos na História do país. O principal erro, segundo a Associação dos Oficiais da Polícia Militar de São Paulo, que representa os 90 mil PMs paulistas, foi o governo dar início ao processo de endurecimento contra os chefes das quadrilhas que dominam o crime organizado na última sexta-feira, exatamente quando o Poder Judiciário havia concedido indultos a 12 mil presos para que eles passassem o dia das mães em casa.

Com isso, os chefes da principal organização criminosa do estado passaram a contar com um verdadeiro exército de soldados do crime nas ruas para executar as ordens que vinham dos presídios, transmitidas por celulares de dentro das 109 unidades prisionais do estado.

¿ O ex-presidente americano Abraham Lincoln já dizia que quando os estrategistas falham, os soldados é que morrem. Na verdade, endurecer com os chefes das quadrilhas nas cadeias era importante. O que não podia era endurecer com eles exatamente quando eles tinham 12 mil soldados nas ruas para passar o dia das mães em liberdade ¿ disse ontem o major Sergio Olimpio Gomes, diretor da Associação dos Oficiais da Polícia Militar de São Paulo, lamentando a morte de 35 PMs, dos 55 mortos nas últimas 48 horas de guerra em São Paulo.

Governo sabia de motins, diz major

O pior, segundo o major da PM, é que o governo havia sido avisado que os presos fariam as rebeliões em massa neste fim de semana, dia da mães, mas não traçou um plano para proteger os policiais nas ruas e as unidades atacadas pelos bandidos soltos nas ruas.

¿ Esta foi a maior tragédia da história, fruto da incompetência dos gestores da segurança pública. O governo sabia que haveria os motins, mas não tinha idéia da proporção que ela atingiria. As autoridades transferiram para o presídio de Presidente Wenceslau os 760 principais chefes da facção criminosa, mas não impediram que eles se comunicassem por celulares antes e organizassem toda a ação, decidida dias antes da transferência. Esqueceram de bloquear celulares. A transferência dos presos foi a senha dos bandidos para iniciarem essa ofensiva sem precedentes ¿ disse o major Olimpio.

Segundo ele, os 760 chefes do crime organizado que estão presos já deveriam ter sofrido represálias desde 2001, quando fizeram as 29 rebeliões e colocaram o sistema penitenciário em xeque.

Os presos têm contas bancárias em nomes de advogados, parentes e namoradas fora dos presídios, segundo Olimpio. Com esse dinheiro, fruto de roubos e assaltos a bancos, eles compram privilégios nas cadeias, onde entram drogas, mulheres, armas, celulares.

¿ Agora que o governo resolveu endurecer, eles não aceitaram perder essas regalias e deram a resposta. Só que a resposta foi dada em cima de soldados, policiais civis que estavam de folga, mortos em casa, com suas famílias, indefesos. A maioria que estava de folga nem receberá os R$100 mil de indenização por morte em serviço ¿ disse o major. ¿ Os chefes deveriam ser confinados sim, mas nunca às vésperas do dia da mães em que as cadeias estariam lotadas e também não um dia depois da Justiça dar indulto aos presos, o que os policiais acabou sendo um insulto.