Título: ONDE O PERIGO BATE PONTO
Autor: Cláudio Motta e Gustavo Goulart
Fonte: O Globo, 15/05/2006, Rio, p. 14

Assaltos são freqüentes em pelo menos 21 locais no Centro

Além das 40 mil pessoas que escolheram o Centro do Rio para morar, os trabalhadores que diariamente freqüentam a área ¿ coração financeiro da cidade ¿ também convivem com o perigo. Uma população circulante de dois milhões, boa parte empregados de empresas localizadas no bairro, não tem escolha e se expõe diariamente ao risco de assaltos, que estão em primeiro lugar no ranking de crimes na região, e também a roubo de celulares, ao golpe conhecido como ¿saidinha de banco¿ e a roubos e arrombamentos de carros.

Assim como acontece na Zona Sul, conforme O GLOBO mostrou na primeira reportagem da série que começou ontem, o assalto a transeuntes se destaca com a maior média anual no Centro entre os sete crimes analisados pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec). A pesquisa da entidade foi feita com base em estatísticas da Secretaria estadual de Segurança de 2000 a 2005.

Apesar disso, os especialistas estão preocupados com outros crimes que também têm crescido e com o fato de os bandidos usarem táticas cada vez mais ousadas de ataque. Uma delas, por exemplo, é um tipo de roubo de celular chamado de ¿tampar¿, em que a abordagem da vítima é mais violenta. Menores dão um tapa na orelha da pessoa quando ela está ao telefone e pegam facilmente o aparelho que cai no chão. O roubo de celulares está em segundo lugar entre os crimes mais freqüentes no Centro: a média anual foi de de 1.208 casos de 2000 a 2005. Os pontos de maior incidência são o Largo da Carioca e as avenidas Rio Branco e Presidente Antônio Carlos.

No topo das estatísticas, com média anual de 1.829 casos nos anos analisados pela pesquisa, os assaltos a transeuntes são mais freqüentes na área da 5ª DP (Mem de Sá), onde foram registrados cerca de 33% deles. Em seguida vêm a 4ª DP (Central do Brasil), com 25,7%; a 1ª DP (Praça Mauá), com 22,8%; e a 6ª DP (Cidade Nova), com 18,5%.

¿ Havia uma tendência de queda do assalto a transeunte até 2003, quando foram registrados 1.373 casos. No ano seguinte, foram 1.844, chegando a 2.859 em 2005 ¿ diz Leonarda Musumeci, coordenadora da pesquisa no Cesec.

Nessa modalidade, os bandidos também inovam. Na semana passada, na Avenida Antônio Carlos, na altura do Tribunal de Justiça, um homem vestindo um terno impecável foi visto puxando a bolsa de uma mulher, ao mesmo tempo em que brigava com ela, dando a entender que se tratava de uma briga de casal. Nada disso: ele era um assaltante tentando dissimular que roubava a bolsa da mulher.

O glamour da histórica Avenida Rio Branco está ameaçado. Dona de uma banca de jornal, X. é testemunha da rotina de violência do lugar. Ela própria já sofreu dois assaltos. Um deles há duas semanas:

¿ Já perdi a conta de quantas ¿saidinhas de banco¿ vi aqui da banca. Todo mundo sabe o que acontece, mas ninguém reprime.