Título: UM LUGAR ONDE O LADRÃO ROUBA, FOGE E VOLTA
Autor:
Fonte: O Globo, 15/05/2006, Rio, p. 15

Zelador de edifício viu 3 assaltos na última quarta-feira no mesmo lugar: próximo ao prédio do Tribunal de Justiça

Os roubos no Centro são freqüentemente presenciados por Maxwell Pinheiro de Araújo, de 35 anos, zelador-chefe do edifício Claridge, na Avenida Presidente Antônio Carlos. Somente na última quarta-feira ele viu três assaltos, todos cometidos pelo mesmo ladrão. O rapaz roubava celulares ou carteiras, fugia e depois voltava para o mesmo local. O relato é um retrato fiel das estatísticas: de 1º de janeiro a 8 de maio deste ano, ocorreram ali 89 roubos de celulares, de acordo com a Polícia Civil.

A experiência vivida pelo professor de história Montgomery Miranda, de 35 anos, quando seguia em seu carro do Centro para a Zona Sul, é contada por ele como o filme policial mais assustador que já viu. Ele foi abordado por um bando armado de fuzis e pistolas que fechou a entrada do Túnel Santa Bárbara, às 14h, parando vários carros. Revoltado, Montgomery diz que o episódio foi um dos mais aterrorizantes de sua vida.

¿ Virei estatística da violência urbana no Rio. O que fazer? Sinceramente, não vou vestir uma camiseta branca e sair pela orla de Ipanema num domingo de sol pedindo paz ou gritando basta. Como dizemos em linguagem coloquial, ¿perdi¿ ¿ disse, acrescentando que não acredita mais na política de segurança.

Região tem 4 batalhões, além do QG da PM

É fácil encontrar quem tenha sofrido algum tipo de violência no Centro. No bairro de Fátima, o aposentado Joaquim de Freitas Queiroz, de 67 anos, foi vítima de uma tentativa de roubo ao sair de uma agência bancária, em dezembro passado. Joaquim conseguiu escapar, mas foi baleado de raspão pelos assaltantes, que atiraram nele. Ao sair do supermercado onde tentou se esconder, foi abordado por um dos ladrões e reagiu com um soco.

¿ O ladrão correu até a moto, pegou um revólver e disparou. A bala passou raspando na minha perna esquerda ¿ contou o aposentado, que três dias depois fez o reconhecimento dos assaltantes presos por PMs.¿ Mas logo eles estavam de novo circulando por aqui e, 15 dias depois, foram assaltar um sargento da PM na Ladeira do Castro. Soube recentemente que o que atirou contra mim foi morto com cinco tiros. Eu me senti aliviado.

¿Saidinhas de banco¿, furtos de CD-players, assaltos a motoristas em sinais de trânsito e até assassinatos em áreas próximas a favelas fazem parte dos inúmeros crimes registrados na região. Uma estatística que aparentemente não condiz com o fato de o Centro ter quatro batalhões da PM, além do Quartel General da corporação, na Rua Evaristo da Veiga, da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core) e da sede da Chefia de Polícia Civil.

Foi perto do QG da PM que, em 9 de maio do ano passado, dois policiais militares que investigavam o tráfico de drogas foram baleados. O patrulhamento na Rua Evaristo da Veiga teve que ser reforçado porque menores estavam arrombando carros para furtar CD-players.

¿ À noite, era mole. No ¿Beco da Morte¿ ainda é ¿ contou um dos rapazes, em alusão à Ladeira da Misericórdia, que liga a Avenida Presidente Antônio Carlos à Praça Quinze. Ele disse que vive no Centro com a namorada desde que deixou a favela em que morava em Bento Ribeiro por causa de uma dívida com traficantes.

No ¿Beco da Morte¿, depois das 20h, quando os guardadores de carro vão embora, os menores pulam a grade do estacionamento dos oficiais de Justiça do Fórum, do outro lado da Praça dos Expedicionários. Certo dia, um deles foi detido pelo segurança do estacionamento que o levou ao tribunal, de onde saiu para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.

¿ Sempre que vou embora, costumo avisar os motoristas sobre o risco de deixar o carro aqui. Mas as pessoas ficam para um chopinho e acabam sendo roubadas ¿ conta um guardador de carros.

Para o comércio, a situação só não é pior graças à segurança privada. As 13 ruas que fazem parte da Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega (Saara), por exemplo, viraram uma ilha de tranqüilidade dentro do bairro. A explicação é a presença de 140 vigilantes na área, em sua maioria policiais aposentados.

Os roubos no Centro também acontecem durante engarrafamentos. É comum, à noite, assaltantes se aproximarem dos motoristas oferecendo vagas para roubá-los. Os casos são freqüentes no Passeio Público, nas ruas do Riachuelo, do Lavradio, das avenidas Mem de Sá e Presidente Vargas, próximo da Central do Brasil, da Candelária e da Universidade Estácio de Sá.