Título: SOLIZ: `NACIONALIZAÇÃO É REVOLUCIONÁRIA¿
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 15/05/2006, Economia, p. 20

Bolívia arrecadará US$300 milhões anuais por cada dólar cobrado a mais do Brasil

BUENOS AIRES. A nacionalização dos recursos de gás natural e petróleo bolivianos desatou um processo revolucionário, disse ontem o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz Rada. Em entrevista ao jornal argentino ¿Página 12¿, Soliz Rada afirmou que a medida, anunciada no dia 1º de maio pelo presidente Evo Morales, ¿reabriu o processo de uma revolução nacional¿:

¿ Nós a concebemos como parte das revoluções nacionais da nossa América Latina ¿ afirmou o ministro. ¿ Deveria culminar com este ansiado sonho de uma grande pátria, socialista e latino-americana.

Com respeito às negociações com o Brasil, Soliz Rada reconheceu que são, de fato, ¿complicadas¿:

¿ No Brasil se compara a energia importada da Bolívia com a produzida no próprio país. E o Brasil está pagando pelo gás boliviano um preço US$2 inferior ao produzido lá. Cada dólar que a Bolívia consiga aumentar no preço do gás exportado ao Brasil representará cerca de US$300 milhões anuais a mais de receita para o Estado ¿ afirmou Soliz Rada.

Para Soliz Rada, as ações do governo recém-eleito do líder cocaleiro Evo Morales são uma resposta às aspirações dos movimentos sociais. O ministro destacou as origens de Morales como um elemento de legitimidade do governo boliviano.

¿ A participação desde baixo com um presidente de forte raiz popular faz com que falemos com cada vez mais força da unidade da nação oprimida pelo império e a necessidade de manter esta unidade para enfrentar os desafios futuros.

Repsol reafirma que negociará com a Bolívia

O jornal argentino perguntou ao ministro se a Bolívia está seguindo o modelo adotado pelo presidente venezuelano Hugo Chávez:

¿ Isto é um conceito carregado de intencionalidade. O que se quer é apresentar a Bolívia como uma espécie de extensão da política venezuelana. Há uma relação fraterna, de grande respeito mútuo, dos governos de Venezuela e Bolívia, e não uma dependência, como pretendem certos meios de comunicação interessados em distorcer a verdade ¿ respondeu Soliz Rada.

Ontem, o presidente da petrolífera espanhola Repsol-YPF, Luis García Sánchez, voltou a dizer que negociará com o governo boliviano para decidir se a companhia fica ou não no país. Em comunicado oficial, a empresa afirmou, porém, que é necessário que o governo reconheça os investimentos feitos no país. A nota informa ainda que a Repsol continuará operando os campos de produção até que se definam os parâmetros do novo contrato com a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB).

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