Título: China tenta reduzir consumo de petróleo sem desacelerar economia
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 15/05/2006, Economia, p. 20

Entre medidas adotadas, imposto de carros mais potentes subiu de 8% para 20%

PEQUIM. A alta nos preços do petróleo faz a China ¿ segundo maior consumidor do combustível no mundo, ou 318 milhões de toneladas em 2005, atrás apenas dos Estados Unidos ¿ viver hoje o seu momento mais crucial. Como importa 42% do petróleo que usa anualmente, é preciso reduzir o consumo e evitar o aumento dos gastos com a compra da matéria-prima (foram mais de US$50 bilhões no ano passado). Mas, por ser nação em desenvolvimento, não quer deixar a economia desacelerar: em 2005, o PIB chinês cresceu 9,9% atingindo um volume de US$2,3 trilhões e ultrapassando, de uma só vez, as economias da França e do Reino Unido.

Segundo Huiqiang Cheng, diretor do Instituto de Economia Sustentada da Universidade Tecnológica de Pequim, a China está enfrentando este dilema em três frentes: redução do consumo, aumento da produção local e diminuição do petróleo na matriz energética do país, com sua substituição por novas fontes de energia, como etanol e biodiesel.

Prefeituras aumentaram uso de gás natural em ônibus

Uma das soluções é a nova política fiscal para a compra de carros. Desde abril, modelos com motores 2.0 tiveram o imposto aumentado de 8% para até 20%, segundo o Ministério das Finanças da China. Já os carros com motores entre 1.0 e 1.5 tiveram o imposto reduzido de 5% para 3%.

Outras medidas vêm das prefeituras das principais cidades chinesas: aumento de pedágios e taxas de estacionamento, assim como o uso de gás natural ou eletricidade em ônibus públicos. Assim, a utilização de carros seria desestimulada, ampliando a de coletivos. Huiqiang, no entanto, nota uma contradição nas ações:

¿ O sinal é ambíguo. Percebe-se que o governo chinês quer que as pessoas continuem comprando carros, porque isso estimula a economia e gera empregos, mas também deseja que os motoristas usem pouco os veículos, gastando menos com a compra de combustível.

A China ainda subsidia o preço da gasolina, apesar dos aumentos de preços internos do combustível. Segundo Huiqiang, a gasolina nos postos passou de 2 yuans o litro, em 2002, para 4,4 yuans o litro este ano. Ainda assim, a gasolina custa US$0,55, bem abaixo da média dos países onde o preço é fixado a valores de mercado. E com um agravante: em 1999, a China tinha apenas 9,4 milhões de veículos circulando, número que saltou para 227 milhões em 2004.

Em outubro, a agência de avaliação de risco Standard & Poor¿s divulgou um estudo dizendo que a fome da China por petróleo estava desestabilizando os mercados e ajudando a elevar os preços do combustível. O país se defende:

¿ Cerca de 67% da energia consumida da China são originadas do carvão. A fatia do petróleo é de 24% ¿ diz Zhang Guobao, vice-ministro da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o ministério do planejamento chinês. ¿ E mais: as estatísticas indicam que o volume de petróleo importado da China, com uma população de 1,3 bilhão, foi de 117 milhões de toneladas em 2004. Só para comparar, as importações dos EUA foram de 500 milhões de toneladas, a do Japão, 200 milhões de toneladas e da Europa, 500 milhões de toneladas. E somos nós os grandes consumidores?

Importação dobrou nos últimos cinco anos

Sim, mas enquanto o consumo dos países desenvolvidos cresce a taxas moderadas, as importações de petróleo da China dobraram nos últimos cinco anos e as taxas de crescimento nos últimos dois anos são de 40% a cada ano. A China pode ser o quinto maior produtor de petróleo do mundo, mas a sua taxa de crescimento anual, de cerca de 9% dos últimos cinco anos, parece não dar vazão a tanto esforço.