Título: CDBS CRESCEM 125% COM CRÉDITO E FALTA DE TÍTULOS PÚBLICOS NO MERCADO
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 15/05/2006, Economia, p. 21

Registro de papéis privados dobra em um ano, para R$307 bi em abril

A expansão acelerada do crédito e a escassez, no mercado financeiro, de títulos públicos que acompanhem a trajetória da taxa de juros fizeram o estoque de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) no mercado mais que dobrar nos últimos 12 meses. Apenas este ano, o crescimento foi de 10% de janeiro a abril. Levantamento feito pela Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip), onde os títulos são registrados, mostra que o estoque de CDBs chegou a R$307,6 bilhões em abril, ante R$144,4 bilhões no mesmo mês do ano passado. No início de 2006, o estoque era de pouco mais de R$280 bilhões.

Boa parte do crescimento se deu com o aumento da participação dos CDBs ¿ que são títulos emitidos pelos bancos em nome do investidor, que recebe em troca um rendimento previsto em contrato, por um período específico ¿ na carteira dos fundos de investimento. Fundos DI, que tradicionalmente aplicavam quase a totalidade dos recursos em títulos do governo atrelados à taxa básica de juros (a Selic), passaram a investir até 50% em CDBs, títulos privados considerados mais arriscados que os papéis do governo.

Isso porque o Tesouro Nacional deixou de emitir as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) ¿ que eram justamente os títulos que acompanhavam o sobe-e-desce dos juros ¿ para melhorar o perfil da dívida pública lançando papéis prefixados. Então, como alternativa, os gestores de fundos passaram a comprar CDBs que replicam o comportamento dos juros.

¿ Com o fenômeno do crédito consignado, bancos passaram a emitir mais CDBs para captar recursos e direcionar aos trabalhadores. Além disso, o problema da oferta de títulos públicos acelerou a compra de CDBs pelos fundos, especialmente porque estes ofereciam uma rentabilidade maior que a dos papéis do governo ¿ explica Antônio Carlos Teixeira, superintendente-geral da Cetip.

Rentabilidade maior do CDB atraiu gestores

Pedro Luzardo, sócio do Banco Modal, compara:

¿ Para se ter uma idéia, um CDB de primeira linha de curto prazo rende 102% do CDI, enquanto as LFTs, título público pós-fixado de mesmo prazo, paga cerca de 96%. É um importante diferencial de rentabilidade, que traz mais ganhos aos fundos ¿ diz Luzardo.

Por isso, instituições como o HSBC aumentaram a parcela de CDBs na carteira dos fundos mais conservadores. De acordo com Renato Ramos, diretor de Renda Fixa do HSBC Asset Management, essa fatia, que era de 15%, em média, há dois anos, é hoje de cerca de 30%:

¿ Cresceu aqui no banco e no mercado a demanda por títulos privados. Tomamos muito cuidado na seleção destes CDBs. Escolhemos apenas bancos de primeira linha no caso dos fundos voltados para o varejo. Somos conservadores com este tipo de crédito.

No Unibanco, também houve aumento da fatia dos CDBs nos fundos DI, por exemplo,

¿ Em alguns fundos, estes títulos chegam a responder por até 50% da carteira, contra 30% no ano passado. Mas, para minimizar riscos, além de escolhermos instituições de primeira linha, pulverizamos a carteira, não tendo mais de 5% de CDBs de um mesmo emissor ¿ afirma Paulo Vaz, diretor-executivo da Unibanco Asset Management (UAM).

Já a Caixa Econômica Federal manteve o modelo antigo: não comprou nenhum CDB para seus fundos de varejo:

¿ O perfil do nosso cliente é muito conservador e, para ele, fundo DI é título público, não privado, que tem um pouco mais de risco ¿ resume Marcelo Bonini, diretor de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal.

¿ Num passado não muito longe, em 2002, em plena crise eleitoral, tínhamos mais confiança nos emissores privados do que nos títulos públicos. Não acredito que o CDB seja mais arriscado por si só ¿ afirma Ramos, do HSBC.

Fato é que, com o crescimento dos CDBs nos fundos, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o mercado de capitais, resolveu impor limites e agora debate com o mercado a proposta de fixar em 30% o teto para aplicações em títulos privados para os fundos de renda fixa de varejo. Mas os bancos argumentam que o percentual é muito baixo.

¿ Acho que mais importante que um limite é a clareza de informação no prospecto do fundo, que alerte para o possível investimento em CDBs e outros títulos privados. A grande discussão, agora, é como passar essa nova informação aos investidores. E hoje a informação não é clara o suficiente ¿ avalia Teixeira.