Título: ATENTADOS AFETAM ATÉ FUNCIONAMENTO DA BOLSA
Autor: Lino Rodrigues e Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 16/05/2006, O País, p. 5

Treze agências bancárias são destruídas parcialmente e outras fecharam mais cedo por causa da violência

SÃO PAULO. Foi um dia de caos e prejuízos para o comércio de São Paulo. Com medo de novos ataques de integrantes de facções criminosas ou por ordem da própria polícia, comerciantes da capital e do interior do estado fecharam as portas de seus estabelecimentos por volta das 13h de ontem. Nos principais pontos do comércio varejista paulistano o dia foi de medo e de muito pouco movimento. Galerias comerciais fecharam e ruas comerciais ficaram vazias.

A onda de violência que assola São Paulo acabou comprometendo também o funcionamento do principal centro financeiro do país. Desde a noite de domingo, agências bancárias tornaram-se alvos das ações dos criminosos. Ao todo, 13 agências foram atacadas com tiros e bombas de fabricação caseira. Oito dessas agências foram destruídas e uma incendiada. As duas bolsas de valores, contudo, informaram que seus pregões funcionarão normalmente nesta terça-feira.

Sindicato dos Bancários pede reforço de segurança

Duas agências do Banco do Brasil, alvejadas por tiros na madrugada, não puderam funcionar ontem. Com as portas giratórias danificadas e vidros quebrados, a direção do banco decidiu não abri-las. Outras duas agências, também do BB, abriram as portas, mas funcionaram com tapumes na fachada onde antes era vidro.

¿ Apesar dos ataques, todas as agências do banco estão abertas hoje em São Paulo, apesar de alguns atrasos ¿ chegou a dizer pela manhã o presidente do Banco do Brasil, Rossano Maranhão, durante apresentação do balanço do banco, sem saber que duas não abriram as portas.

Segundo Maranhão, algumas agências do BB abriram depois do horário normal, 10h, por causa de problemas enfrentados pelos vigilantes para chegar ao trabalho.

¿ A questão é muito ampla e estamos buscando as melhores condições para as agências funcionarem normalmente ¿ disse Maranhão, que descartou um crise maior causada pelos problemas de segurança ao setor. ¿ É realmente uma situação delicada, preocupante. Mas ainda é cedo para imaginarmos um estado de calamidade tal que venha a afetar o funcionamento do sistema financeiro.

Em documento enviado à Federação Brasileira das Associações do Bancos (Febraban), o Sindicato dos Bancários solicitou reforço na segurança das agências. No documento, o sindicato sugere que onde não houver garantias de segurança, as agências não sejam abertas.

Em razão dos tumultos que os boatos sobre atentados provocaram no Centro, onde a maioria dos comerciantes fecharam as portas e dispensaram os empregados, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) cancelou o ¿After Market¿, seu pregão eletrônico que funciona entre 17h30m e 19h.

Em razão disso, a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) suspendeu os negócios com o índice Bovespa no seu ¿After Market¿. As duas bolsas, contudo, informam que seus pregões funcionarão normalmente hoje.

Boato de arrastão à tarde aumentou pânico

No final da manhã, um boato de que a principal facção criminosa paulista faria um arrastão no período da tarde aumentou o pânico. As vendas nas mais de 70 mil lojas na cidade despencaram em mais de 70% em relação ao de uma segunda-feira normal.

¿ A parte econômica é irrelevante. É um dia perdido que o comércio recupera na seqüência. O que não se recupera é repercussão internacional negativa na decisão de investimento no país ¿ alertou o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingues.

Além do Centro, outros bairros tradicionais do comércio da cidade de São Paulo foram atingidos pela onda de pânico que tomou conta de comerciantes e comerciários No Brás, Bom Retiro e Rua 25 de Março os estabelecimentos começaram a ser fechados a partir das 15h. Só no Bom Retiro são 1,2 mil lojas e mais de 30 mil empregados foram dispensados.

Prisão em flagrante de homem que mandava fechar

Até o Sindicato dos Comerciários de São Paulo, que reúne 430 mil trabalhadores, foi obrigado a fechar as subsedes nos bairros de Pinheiros e da Lapa por causa da intranqüilidade gerada pelos ataques a ônibus nas duas regiões. Na Zona Norte, um homem foi preso em flagrante mandando os comerciantes fecharem suas portas. De acordo com a polícia, ele obedecia ordens de uma organização criminosa.

¿As pessoas não estão entrando na loja com medo de ataques dos bandidos ¿ disse João Lopes, gerente da loja Zapata, da Rua Barão de Itapetininga, no Centro. A loja era um dos poucos estabelecimentos que ainda estava aberto às 16h, mas tinha ordens, segundo Lopes, de fechar às 18h, duas horas antes do horário normal para facilitar a volta para casa dos 12 funcionários.

Shoppings e lojas fechados na Baixada Santista e no ABC

Nos Jardins, bairro nobre da capital, e no Largo 13 de Maio, tradicional ponto do comércio popular, os comerciantes também fecharam mais cedo por conta do medo gerado pelos ataques a policiais e a agências bancárias.

O shopping Iguatemi, um dos mais sofisticados de São Paulo e de maior faturamento por metro quadrado do país, e o Market Place, no bairro Morumbi, seguiram o mesmo caminho e cerraram as portas antes das 16h.

Na Baixada Santista, no litoral sul, os lojistas decidiram encerrar o expediente às 13h. Já no ABC paulista, por volta das 16h, mais de 90% das lojas estavam fechadas.

* Especial para O GLOBO