Título: `NÃO POSSO VOLTAR PARA CASA. O QUE VOU FAZER?¿
Autor: Fábio Mazzitelli e Jucimara de Pauda
Fonte: O Globo, 16/05/2006, O País, p. 8

Dor e perplexidade nas famílias de policiais e bombeiros mortos nos ataques contra as forças do estado

RIBEIRÃO PRETO e SÃO PAULO. Medo nas ruas, dor e perplexidade para parentes de policiais e bombeiros mortos ou feridos pelos atentados da maior facção criminosa de São Paulo. O assassinato do policial militar José Eduardo de Souza, de 42 anos, exilou sua família. Com medo de um novo ataque, a viúva Cleide Souza e os cinco filhos do casal deixaram temporariamente a casa em que moravam em São Mateus ainda sem destino certo.

José Eduardo, morto depois de ser atingido por 11 tiros no domingo, foi enterrado ontem, no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina, zona leste da capital paulista. Ele foi fuzilado quando esperava um ônibus na Avenida Rodolfo Pirani, no Jardim Rodolfo Pirani, São Mateus, Zona Leste, onde morava há mais de dez anos. A viúva pediu justiça:

¿ O que o governo vai fazer agora? E os meus cinco filhos? E as minhas filhas? Não posso voltar para casa. O que vou fazer agora? Foi injusto, muito injusto. O que eu espero é justiça, só isso ¿ desabafou.

¿Meu filho não poderia ter morrido assim¿

Pai do bombeiro André Luis dos Santos Nunes, assassinado na noite de domingo em Serrana, Denonis Pereira Nunes traduzia ontem a incredulidade de ver morto o filho treinado para salvar vidas:

¿ Não acredito. Meu filho não poderia ter morrido assim. Ele sempre foi bombeiro, salvou vidas. Não teve chance de se defender, não me conformo.

Preocupado com os ataques a famílias de policiais, André passou na casa da ex-mulher, Fabiana Aparecida Augusto Correia, no domingo à noite, para pedir que as duas filhas não saíssem. Antes de ir embora, beijou as meninas. Por volta da meia-noite, estava morto. Enquanto participava de um pagode, em um lanchonete, foi baleado pelas costas. Ele foi alvo, ainda, de dois tiros na cabeça e mais cinco disparos.

¿ Ele só sabia salvar as vidas. Não pensava no mal de ninguém ¿ conta a ex-mulher.

O terror imposto pela facção criminosa interrompeu os planos de casamento do policial florestal Arildo Ferreira da Silva. Ele foi morto na madrugada de ontem quando saía da casa da namorada, no bairro Geraldo Correia de Carvalho.

¿ Era um moço bom e ele e minha filha pretendiam casar logo. Agora na minha casa é só tristeza. Ele era um rapaz que defendia até os animais e não merecia morrer assim ¿ diz Valdir Francisco de Oliveira, pai da namorada de Arildo

Grávida de cinco meses, a viúva do agente penitenciário Alexandre Luís Lima, assassinado com vinte tiros quando deixava o trabalho extra em um motel da Vila Mariana, no domingo, espera providências das autoridades. O agente deixou ainda um filho de três anos.

¿ Espero que ninguém passe por isso. Meu marido não fazia mal para ninguém. As autoridades não podem deixar que esta onda de violência continue ¿ disse a viúva, que preferiu não se identificar.

Irmã do policial reformado Joaquim dos Reis, assassinado no último domingo, por volta das 19h, Joana Darc de Faria conta que ele estava sentado quando dois homens em uma bicicleta atiraram em direção a Joaquim:

¿ Ele correu e caiu. Os rapazes perceberam que ele ainda estava vivo e voltaram para acabar de matar o meu irmão.

O delegado Adelson Taroko, diretor da cadeia pública de Jaboticabal, está internado na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, e corre risco de morrer. Anteontem, durante uma rebelião de presos em Jaboticabal, Adelson foi rendido pelos presos e depois queimado, enrolado em um colchão. Adelson Taroko entrou na cadeia para negociar com os detentos o fim da rebelião. Outros quatro presos também foram queimados e dois foram baleados.

*Do Diário de S. Paulo

** Especial para O GLOBO