Título: NO RIO, DISPUTA ENTRE FACÇÕES FACILITA CONTROLE
Autor: Elenilce Bottari e Fábio Gusmao
Fonte: O Globo, 16/05/2006, O País, p. 10

Em três penitenciárias do estado presos estariam em greve de fome; governo nega ação de quadrilhas no movimento

Dois pontos principais diferenciam a violência em São Paulo e no Rio de Janeiro, dentro e fora dos presídios: o número de quadrilhas e o tamanho do sistema penitenciário. A socióloga Julita Lengruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes e ex-diretora do Sistema Penitenciário do Rio, lembra que no Rio o crime organizado está pulverizado em quadrilhas distintas, que disputam entre si pontos de venda de drogas e o comando nas cadeias.

Uma rivalidade histórica, que começou com o surgimento da primeira quadrilha, a Falange Vermelha, em 1969, no Instituto Penal Cândido Mendes, o extinto presídio da Ilha Grande.

¿ Os grupos aqui disputam entre si e têm todo um esquema de entregar para a polícia informações sobre seus inimigos. É a idéia do dividir para governar. Mas não foram as autoridades que optaram pela divisão. Historicamente sempre foi assim ¿ diz ela. Segundo Julita, a pulverização ajuda as autoridades a controlar a situação, enquanto em São Paulo uma facção criminosa virou um corpo poderoso. A socióloga lembrou que mesmo quando há tumultos na cidade ordenados por traficantes que seriam de Bangu I (onde estão os presos de maior periculosidade), o movimento não é tão intenso, porque também há divisão nas favelas.

¿ Já em São Paulo, essas ordens estão centralizadas, o que é um complicador ¿ lembrou.

SP tem quase 50% dos presos

Segundo Julita, a maior diferença no comportamento do crime entre Rio e São Paulo está no tamanho do sistema penitenciário paulista:

¿ É um fator fundamental. São Paulo tem quase 50% dos presos do país. São mil novos presos por mês. Ao mesmo tempo, apenas recentemente o estado criou sua Defensoria Pública. No Rio, com todas as dificuldades, o sistema recebe verbas do SUS. Temos sete unidades hospitalares para presos. Em São Paulo eles optaram pelo endurecimento. É o estado que mantém o regime de tratamento diferenciado. Parece que não está se mostrando eficaz.

Segundo a Delegacia de Repressão a Entorpecentes, há hoje no Rio pelo menos três facções criminosas.

Presos de uma das quadrilhas do Rio entraram em greve ontem. Seriam ligados ao grupo que aterroriza São Paulo. A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) informou que apenas três penitenciárias foram atingidas e chamou a paralisação de ¿greve de trabalho¿. Mas o presidente do sindicato dos Agentes Penitenciários, Paulo Ferreira, diz que dez mil detentos em várias unidades estão em ¿greve de silêncio¿.

¿ Não são apenas três unidades, estão mentindo. Cerca de dez mil presos estão em greve, nem mesmo banho de sol eles tiveram. E a greve começou ontem e não na semana passada ¿ insistiu Ferreira.

A Seap negou a greve em todas as unidades que abrigam presos da maior facção do Rio. A secretaria informou que a penitenciária Edgard Costa, em Niterói, está em greve desde a semana passada. Os presos estão comendo e recolhendo o lixo, mas não estão trabalhando.

As outras duas unidades são o Milton Dias Moreira, na Frei Caneca, no Centro, e Vicente Piragibe, no Complexo Penitenciário de Gericinó.

(*) Do Extra

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