Título: LULA QUER INDEPENDÊNCIA EM GÁS
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Fonte: O Globo, 16/05/2006, Economia, p. 25

Presidente da Petrobras diz que empresa pode acelerar produção

BRASÍLIA e RIO. O Brasil só continuará comprando gás natural da Bolívia se o preço cobrado não for lesivo à população e à economia brasileiras, afirmou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu programa semanal de rádio. Ele defendeu ainda que o Brasil se torne auto-suficiente ¿ ¿Temos que ser donos do nosso nariz¿ ¿ na produção do gás.

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse ontem que a empresa tem condições de acelerar a produção de gás no país. A estatal ¿ que previa investir US$16 bilhões em gás de 2006 a 2010 e aumentar a oferta ao mercado de 25 milhões para 70 milhões de metros cúbicos por dia ¿ estuda aumentar o montante no plano de negócios para 2007 a 2010.

¿ A crise mostra a necessidade de diversificação de fontes de energia. Destaco a importância das fontes alternativas, particularmente do biocombustível, assim como a bioenergia ¿ afirmou Gabrielli, ao receber o prêmio concedido à Petrobras de Empresa Benemérita do 18º Fórum Nacional.

Lula: Preço do gás tem que ser justo para Bolívia e Brasil

Já o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, admitiu a possibilidade de a Petrobras rever sua política de atuação nos países da América Latina, em função dos recentes problemas em Bolívia, Venezuela e Equador.

Segundo Lula, o preço do gás tem que ser justo tanto para os bolivianos quanto para os consumidores brasileiros ¿ residenciais, comerciais e industriais, além dos motoristas que usam gás natural veicular (GNV). Lula acredita que ao fim das negociações vai poder garantir à população que não faltará o insumo para abastecimento de táxis e casas, e que as indústrias continuarão produzindo.

Em um debate na UFRJ, o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, também descartou ¿apagão¿ de gás, mas admitiu que o insumo já não é tão competitivo para os pequenos consumidores industriais de São Paulo. Sauer disse que a Petrobras não aceitará pagar nem US$1 a mais pelo gás boliviano, nas negociações previstas para esta semana.

Sauer admitiu que ¿houve desacertos e exageros verbais do lado de lá¿, mas reconheceu o direito soberano da Bolívia de nacionalizar o setor de petróleo e gás. Sobre a participação da americana Enron nas privatizações na Bolívia nos anos 90, disse que foi ¿um assalto aos recursos naturais¿ no país. Exaltado com o que chamou de ¿notório exagero da imprensa¿, o diretor disse que estava indo para São Paulo reunir-se com a diretoria da Fiesp.

Para Lula, houve muita polêmica quando o presidente da Bolívia, Evo Morales, decretou a nacionalização. Lula afirmou que houve muito discurso e muitas interpretações equivocadas. Mas não quis dizer abertamente que Morales visava às eleições para a Assembléia Constituinte, em julho, e defendeu o diálogo.

Lula afirmou que disse a Morales, em Viena, que o Brasil reconhece o direito da Bolívia ao gás de seu subsolo, mas que os bolivianos devem reconhecer que o Brasil é o maior consumidor desta produção. Para Lula, os dois países precisam estar em paz e ter tranqüilidade na renovação dos acordos, levando em conta o contrato já em vigor.

COLABOROU Mariza Louven